O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desistiu, neste domingo (21), de disputar a reeleição, e declarou apoio à sua vice-presidente, Kamala Harris, para que seja a candidata presidencial do Partido Democrata e "derrotar" o republicano Donald Trump nas presidenciais de novembro nos Estados Unidos.
Biden, de 81 anos, engrossou o clube restrito de presidentes americanos em fim de mandato que jogaram a toalha em sua tentativa de conseguir a reeleição.
Mas é o primeiro a fazê-lo a esta altura da campanha. E o único que teve que se dar por vencido devido às dúvidas sobre sua acuidade mental, após um desempenho desastroso no debate com Donald Trump.
"Embora tenha sido minha intenção buscar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu me retire [da disputa] e me concentre exclusivamente em cumprir meus deveres como presidente pelo restante do meu mandato", disse Biden em uma carta publicada na rede X. Ele acrescentou, ainda, que fará um discurso à nação "esta semana com mais detalhes" sobre sua decisão.
Além disso, Biden manifestou seu apoio para que sua vice-presidente seja a indicada do Partido Democrata para a disputa com o republicano Donald Trump.
"Hoje, quero oferecer todo o meio apoio a Kamala [Harris] para que ela seja a indicada de nosso partido este ano", assinalou Biden no X. "Democratas: é hora de nos unirmos e vencer Trump. Vamos fazê-lo".
Harris, primeira vice-presidente mulher, negra e de origem sul-asiática da história dos Estados Unidos, elogiou o "ato desinteressado e patriótico" de Biden e afirmou que espera "conseguir a indicação" do partido.
- "Derrotar" Trump -
"Farei tudo o que estiver em minhas mãos para unir o Partido Democrata - e unir a nossa nação - para derrotar Donald Trump", escreveu ela em um comunicado.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, também declarou apoio à candidatura de Harris.
"Com nossa democracia em risco e o futuro por um fio, ninguém é melhor para processar o caso contra a visão sombria de Donald Trump e guiar nosso país por uma direção mais saudável do que a vice-presidente dos Estados Unidos da América, @KamalaHarris", escreveu na rede X Newsom, que era apontado como um possível nome para substituir Biden.
O candidato republicano Donald Trump reagiu rapidamente.
"O corrupto Joe Biden não era apto para se candidatar como presidente, e certamente não é apto para servir [como tal] - E nunca foi!", publicou em sua rede, Truth Social.
O líder republicano da Câmara de Representantes, Mike Johnson, afirmou, no domingo, que Biden deveria renunciar à Presidência dos Estados Unidos "imediatamente".
O anúncio era esperado por mais que sua equipe de campanha e ele próprio se empenhassem em afirmar que ele levaria a candidatura até o fim.
Contudo, representa uma reviravolta em uma campanha que já experimentou muitas idas e vindas, sobretudo com a tentativa de assassinato contra Donald Trump em 13 de julho durante um comício.
Agora, o Partido Democrata terá que encontrar um substituto ou uma substituta, faltando poucos dias para a convenção nacional marcada para começar em 19 de agosto em Chicago (norte).
Kamala Harris é uma escolha natural, mas não automática, para se tornar a candidata democrata. A última palavra será dos delegados do partido: 3.900 pessoas com perfis muito distintos e em sua maioria completamente desconhecidas da opinião pública.
O ex-presidente americano, Barack Obama, elogiou a decisão de Biden e o qualificou de "patriota", mas admitiu que o partido mergulha na incerteza.
"Navegaremos em águas desconhecidas nos próximos dias. Mas tenho uma confiança extraordinária em que os líderes do nosso partido serão capazes de criar um processo do qual surja um candidato de destaque", acrescentou em nota.
O apoio à candidatura de Harris injetou otimismo.
O grupo democrata de arrecadação de fundos ActBlue informou no domingo que registrou sua maior arrecadação em apenas um dia para as eleições de 2024, com "46,7 milhões de dólares" (259 milhões de reais na cotação atual).
- Desempenho desastroso -
O desempenho desastroso de Joe Biden durante o debate em 27 de junho com Donald Trump precipitou os acontecimentos.
Naquele dia, desde os primeiros segundos da batalha verbal que ele mesmo havia convocado, dezenas de milhões de telespectadores viram um Biden titubeante. Ele estava resfriado e tossia frequentemente. Sua voz estava apagada, ficava travado ao falar e deixou frases inacabadas.
Foi um espetáculo doloroso que trouxe dúvidas sobre sua idade, que seu círculo mais próximo se esforçava para dissipar.
Assim que o debate acabou, a pergunta era inevitável: quem seria o primeiro a lhe pedir que passasse o bastão?
O nervosismo se espalhou e alguns democratas chegaram a pedir sua saída publicamente.
Com o passar dos dias, foram-se somando pesos-pesados do partido.
Um após o outro, assustados com as pesquisas que o davam como perdedor e temendo uma vitória avassaladora do republicano Donald Trump, deram-lhe as costas. A princípio, em caráter privado, sugerindo que reconsiderasse sua candidatura.
A imprensa americana, citando fontes anônimas, noticiou que o ex-presidente Barack Obama, a ex-chefe da Câmara de Representantes Nancy Pelosi e os líderes democratas no Congresso Chuck Schumer e Hakeem Jeffries expressaram preocupação.
E as imagens de Joe Biden testando positivo para a covid-19, descendo com dificuldade as escadas de seu avião, só aumentaram o nervosismo de seus aliados.
* AFP