Um dos maiores apagões cibernéticos registrados nos últimos anos afetou várias atividades nesta sexta-feira (19) em todo o planeta, envolvendo companhias aéreas, bancos, hospitais e empresas ferroviárias e do setor de telecomunicações.
A falha foi provocada por uma atualização corrompida, nos sistemas operacionais Windows da Microsoft, de um programa de antivírus da empresa americana de cibersegurança CrowdStrike Falcon, que descartou um ataque hacker ou um problema de segurança cibernético.
Em Wall Street, as ações da CrowdStrike fecharam em queda de 11,10%, e as da Microsoft, de 0,74%.
"Gostaria de pedir desculpas pessoalmente a todas as organizações, grupos e indivíduos que foram afetados por esta interrupção", declarou o diretor-geral da CrowdStrike, George Kurtz, à emissora americana CNBC.
A Microsoft informou sobre "um problema" que deixava a tela azul. "Recomendamos aos clientes que sigam os conselhos da CrowdStrike para solucionar esta situação", acrescentou a empresa.
Para o especialista em cibersegurança Junade Ali, a falha "não tem precedentes" e "entrará para a História". "Tem impacto direto nos computadores dos usuários finais e sua solução pode exigir intervenção manual, o que representa um desafio importante", afirmou.
A falha provocou perturbações em vários aeroportos internacionais, com problemas nos sistemas de check-in. Na Espanha, todos os aeroportos foram afetados. No terminal de Barajas, em Madri, os passageiros precisaram ter paciência.
"Vamos voar para Nice. Temos muito medo de perder o voo, porque não sei o que está acontecendo", disse à AFP Blanca Arroyo, que acabava de chegar da Colômbia.
No começo da tarde, a entidade que administra os aeroportos espanhóis, Aena, afirmou que seus "principais sistemas" haviam sido "restabelecidos".
- Horas no aeroporto -
Nos Estados Unidos, os serviços de emergência de ao menos três estados foram afetados, e 2.400 voos foram cancelados ao longo do dia, um número que pode seguir aumentando. "Segundo nossas informações, os voos foram retomados em todo o país, mas segue havendo um certo congestionamento", disse um funcionário do governo.
As principais companhias aéreas americanas, incluindo Delta, United e American Airlines, retomaram suas atividades.
No México, as companhias aéreas pareciam continuar com problemas, e os aeroportos de Guadalajara e Monterrey pediram aos passageiros que chegassem com muitas horas de antecedência.
"Estamos esperando desde as 3h", contou Juan Pablo Olvera, no aeroporto do México. "Como o sistema está fora do ar, os QR-codes não funcionaram".
Em plena temporada de férias, formaram-se aglomerações nos aeroportos de Berlim, de Amsterdã-Schiphol, nos Países Baixos, e no de Hong Kong, anunciaram as autoridades aeroportuárias desses países.
Na Suíça, o aeroporto de Zurique, o maior do país, informou que os aviões já podiam aterrissar novamente, após a suspensão dos pousos.
Além de companhias aéreas e dos aeroportos, o apagão cibernético também afetou hospitais na Holanda, a Bolsa de Londres e a principal empresa ferroviária britânica.
A programação do canal britânico Sky News foi interrompida. Na Austrália, a emissora nacional ABC anunciou que seus sistemas foram afetados por uma falha "importante".
Na Nova Zelândia, a imprensa relatou problemas nos bancos e nos sistemas dos computadores do Parlamento.
- 'Infraestruturas resistentes' -
A falha também interrompeu "os sistemas de informática" dos Jogos de Paris 2024, informou o comitê organizador do evento, a uma semana da cerimônia de abertura, marcada para 26 de julho. Contudo, as atividades "foram retomadas com normalidade" na tarde desta sexta, segundo os organizadores.
Segundo Elon Musk, CEO da Tesla, a falha também "provocou uma parada cardíaca na cadeia de abastecimento da indústria automobilística".
A dimensão global da falha levou alguns especialistas a destacar o fato de que grande parte do mundo depende de um único fornecedor para serviços tão diversos.
"Precisamos ter consciência de que esse tipo de software pode ser uma causa comum de falha em vários sistemas ao mesmo tempo", disse o professor de Engenharia de Software John McDermid, da Universidade de York, na Inglaterra. "Temos que desenvolver infraestruturas resistentes a esses problemas", acrescentou.
Companhias aéreas como KLM (Países Baixos) e Ryanair (Irlanda) sofreram problemas em suas redes. O mesmo aconteceu com três linhas aéreas indianas, IndiGo, SpiceJet e Akasa Air, cujos sistemas de reserva foram afetados.
Algumas companhias aéreas no aeroporto internacional de Singapura também relataram interrupções devido à pane cibernética.
* AFP