Mais de um milhão de muçulmanos deixaram nesta sexta-feira (14) a cidade saudita de Meca, de onde começaram, sob um calor sufocante, o hajj - sua grande peregrinação anual -, para passar a noite no gigantesco acampamento de Mina, no oeste do reino.
Os fiéis, vestidos com túnicas, chegaram ao acampamento de Mina em ônibus ou a pé, após realizarem o rito do "tawaf", que consiste em dar sete voltas ao redor da Kaaba, a estrutura cúbica negra para a qual os muçulmanos de todo o mundo rezam, situada no coração da Grande Mesquita.
"Deus é grande" ou "Deus, respondemos ao seu chamado", entoavam os peregrinos, que viajaram de todas as partes do mundo, inundados de fervor espiritual.
Os participantes, que na segunda-feira chegavam a 1,5 milhão, enfrentarão neste ano o calor intenso, com previsões de temperaturas máximas diárias de 44 ºC.
"Está muito, muito quente", declarou Fahad Azmar, paquistanês de 31 anos. "Mas agradeço a Deus pela oportunidade de estar aqui".
Os fiéis passarão a noite em tendas climatizadas em Mina, um vale rodeado de montanhas rochosas a vários quilômetros de Meca. Este alojamento é organizado por nacionalidades e preços.
Intisham el Ahi, um paquistanês de 44 anos, compartilha sua tenda com dezenas de seus compatriotas. "Deveria haver mais espaço entre as camas, e a climatização não funciona muito bem (...) mas o hajj é sinônimo de paciência", disse.
No exterior, foram instalados pulverizadores para refrescar o ambiente e guardas de segurança borrifam água nos transeuntes.
Espera-se que o sábado seja um dia de oração especialmente difícil para os peregrinos no Monte Arafat. Segundo o porta-voz do Ministério da Saúde saudita, Mohammed al Abdulali, mais de 10.000 pessoas tiveram que ser atendidas por problemas relacionados ao calor no ano assado.
Com a guerra entre Israel e o movimento islamista Hamas na Faixa de Gaza, muitos peregrinos dizem rezar pelos habitantes do território palestino, bombardeado e sitiado há mais de oito meses.
- "Imagens de guerra" -
A guerra começou em 7 de outubro com o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, que matou 1.194 pessoas, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Em represália, Israel iniciou uma grande ofensiva militar contra Gaza que deixou mais de 37.200 mortos, segundo o Ministério da Saúde do governo de Gaza, liderado pelo Hamas.
Na cidade sagrada do islã, a marroquina Zahra Benizahra, 78 anos, não consegue conter as lágrimas ao falar sobre as "imagens de guerra, os deslocados, as crianças mortas".
"Nossos irmãos estão morrendo, vemos com nossos próprios olhos", declarou a peregrina.
Procedente da Indonésia, país com maior número de muçulmanos no planeta, Belinda Elham também está desolada com o conflito.
"Quando nossos irmãos sofrem, nós sofremos", disse a mulher de 43 anos.
A monarquia saudita anunciou esta semana que assumirá os custos da peregrinação de mil parentes de vítimas da guerra em Gaza, o que eleva para 2 mil o número de palestinos beneficiados pela iniciativa.
Mas também advertiu, em uma mensagem do ministro responsável pelo hajj, Tawfiq al-Rabiah, que não permitirá qualquer manifestação política na peregrinação, dedicada estritamente à oração.
O hajj, que consiste em uma série de ritos durante vários dias em Meca e suas imediações, é um dos cinco pilares do Islã.
Caso tenham os recursos, todos os muçulmanos devem participar na peregrinação ao menos uma vez na vida.
Algumas pessoas precisam aguardar por vários anos pela oportunidade de fazer a viagem, já que a Arábia Saudita distribui as permissões com um sistema de cotas por país.
A organização do hajj é uma fonte de legitimidade para a Arábia Saudita, cujo soberano ostenta o título de "guardião das duas mesquitas sagradas", em Meca e Medina.
Mas também representa um importante desafio logístico para o reino, que no ano passado recebeu mais de 1,8 milhão de peregrinos, 90% deles do exterior.
* AFP