A Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) começa nesta quarta-feira (26) em Assunção, capital do Paraguai, marcada pela virada à direita da Argentina de Javier Milei, que se opôs a projetos sobre diretos humanos e mantém uma ríspida relação com o Brasil.
Consultado sobre a posição da Argentina, o secretário-geral, Luis Almagro, apontou, nesta terça, em uma coletiva de imprensa em Assunção, que sempre há "grandes dificuldades para chegar a acordos" e que "a discussão tem que ser plural, diversa".
Em uma reunião preparatória, realizada na última semana em Washington, a Argentina foi contra projetos de resolução relacionados à democracia e ao meio ambiente, que mencionavam a necessidade de contar com uma perspectiva de gênero e ética nos assuntos abordados pela organização.
A embaixadora da Argentina para a OEA, Sonia Cavallo, questionou, entre outras coisas, um parágrafo da resolução sobre o Haiti que mencionava a necessidade de combater a violência sexual e de gênero. O embaixador americano Frank Mora se opôs a perspectiva dos argentinos, argumentando que "a violência de gênero é um problema grave e muito difundido" no país caribenho.
A esse desencontro, a diplomacia argentina soma outra polêmica.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou, nesta quarta, que não falará com Milei até que ele peça "desculpas", a ele e ao Brasil, pelas "bobagens" que o ultraliberal disse. A presidência argentina respondeu pouco depois que Milei "não cometeu nada que precise se arrepender".
Antes de assumir o poder, em dezembro de 2023, o presidente argentino chamou Lula de "corrupto" e "canhoto selvagem".
A Anistia Internacional criticou em um comunicado na terça "a posição regressiva" da Argentina na OEA e alertou que esta postura se soma ao anúncio do Ministério de Relações Exteriores argentino de suspender a participação em todos os eventos ligados à Agenda 2030 da ONU.
A Agenda 2030 tem como objetivo o fim da pobreza, a igualdade de gênero, a educação, a segurança alimentar, o crescimento econômico inclusivo, e o combate urgente às mudanças climáticas e seus efeitos, entre outros temas.
No entanto, Milei é seu firme detrator: "Não vamos aderir à Agenda 2030, não aderimos ao marxismo cultural, à decadência", declarou antes de ser eleito.
- Não seremos ingênuos -
A 54ª Assembleia Geral da OEA, que começou oficialmente na tarde desta quarta e termina na sexta-feira (28), realizada na sede da Conmebol em Assunção, reúne 23 ministros das Relações Exteriores da região para chegar a um consenso sobre a defesa da democracia, direitos humanos, segurança e desenvolvimento.
Entre as prioridades da reunião está a Venezuela, cujo governo abandonou formalmente a OEA em 2019 após de solicitar a saída dois anos antes, acusando o organismo de ser um "espaço de dominação imperial".
O embaixador Mora apontou na semana passada que os países-membros não podiam ser "ingênuos sobre a situação na Venezuela", onde aumentam as detenções de opositores.
O presidente venezuelano Nicolás Maduro busca, em 28 de julho, renovar seu mandato por mais seis anos, em um eleição muito vigiada pela comunidade internacional, e na qual a maioria das pesquisas mostram uma vantagem da oposição liderada por María Corina Machado e seu candidato, Edmundo González.
Também estão na pauta a situação na Nicarágua, onde Daniel Ortega governa há 17 anos, após ser reeleito sucessivamente em eleições vistas como suspeitas pela comunidade internacional; e o Haiti, imerso em uma profunda crise.
Serão "priorizados a erradicação da pobreza, a proteção do meio ambiente e a luta contra a mudança climática", disse, na terça, o secretário-geral-adjunto da OEA, Néstor Méndez.
* AFP