O papel da humanidade no aquecimento destrutivo do planeta é comparável ao do meteoro que destruiu os dinossauros, declarou nesta quarta-feira (5) o secretário-geral da ONU, António Guterres. Os impactos da crise climática continuam a ser cada vez mais vívidos, como no Rio Grande do Sul, segundo o chefe da Organização das Nações Unidas. Ele lembrou da tragédia recente no Sul do Brasil em discurso no Museu Americano de História Natural, em Nova York.
Guterres exemplificou situações, como na Índia e EUA, que recentemente foram tomados por severas ondas de calor. Ainda citou um estudo divulgado nesta semana, que descobriu que "as extensas inundações que devastaram partes do sul do Brasil, levando a 169 mortes, tiveram pelo menos o dobro de probabilidade devido às mudanças climáticas causadas pelo homem".
— Das vastas forças que moldaram a vida na Terra ao longo de bilhões de anos, a humanidade é apenas um pequeno ponto no radar — disse Guterres.
— Mas, tal como o meteoro que eliminou os dinossauros, estamos tendo um impacto descomunal — alertou. — No caso do clima, não somos os dinossauros. Somos o meteoro. Não estamos apenas em perigo. Somos o perigo.
O Copernicus, monitor climático da União Europeia, informou oficialmente nesta quarta-feira que maio de 2024 foi o maio mais quente já registrado na história.
— Isto marca doze meses consecutivos dos meses mais quentes desde sempre — alertou o secretário-geral da ONU
No entanto, ele observou com otimismo que os humanos "também são a solução" e apelou novamente a uma ação global para limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius.
Essa meta, a mais ambiciosa do Acordo de Paris, que existe há quase uma década, está "por um fio", lamentou Guterres.
A Organização Meteorológica Mundial da ONU deverá informar nesta quarta-feira que há 80% de chance de a temperatura média anual global exceder o limite de 1,5 grau em pelo menos um dos próximos cinco anos.
— A batalha por 1,5 graus será vencida ou perdida na década de 2020 sob a vigilância dos líderes de hoje. Tudo depende das decisões que esses líderes tomarem ou deixarem de tomar, especialmente nos próximos 18 meses — afirmou.
Os países signatários do Acordo de Paris devem apresentar novas metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa até o início de 2025.
Guterres apelou à humanidade para tomar uma "rota de saída da estrada para o inferno climático", colocando um alvo específico na indústria dos combustíveis fósseis, que ele rotulou de "Poderosos Chefões do caos climático".
O secretário-geral também denunciou os anunciantes como "facilitadores" que ajudaram as empresas de combustíveis fósseis a adiar a ação climática.
— Parem de aceitar novos clientes de combustíveis fósseis a partir de hoje e estabeleça planos para abandonar os existentes — pediu.
Guterres também instou todos os países a proibirem a propaganda de empresas de combustíveis fósseis, como muitos fizeram para "produtos que prejudicam a saúde humana, como o tabaco".
O chefe da ONU repetiu o apelo à criação de um imposto sobre os lucros das empresas de combustíveis fósseis para financiar a luta contra o aquecimento global, ao mesmo tempo que mencionou "taxas de solidariedade" não especificadas nos setores da aviação e transporte marítimo.
Guterres também exigiu novamente que os países ricos eliminem gradualmente o carvão até 2030 e reduzam o consumo de petróleo e gás em 60% até 2035.
Os países ricos, que são historicamente mais responsáveis pelas emissões de carbono, deveriam aumentar a sua ajuda climática aos países mais pobres e em maior risco, apelou.
— Não podemos aceitar um futuro onde os ricos estejam protegidos em bolhas climatizadas, enquanto o resto da humanidade seja castigada por condições meteorológicas letais em terras inabitáveis — disse ele.