O presidente da Argentina, Javier Milei, será capa da edição de 10 de junho da revista americana Time, conforme adiantado pela publicação nesta quinta-feira, 23. O site da revista divulgou a transcrição de uma longa entrevista dada por ele ao meio, na qual Milei diz conduzir "o maior ajuste da história da humanidade" e prevê retomada forte na economia de seu país.
Milei afirma que deseja retornar a um momento em que a Argentina era uma líder na economia mundial. Segundo ele, muitas instituições argentinas "foram criadas para salvar empresários camaradas", processo conduzido "com a conivência dos políticos", o que gerou muito ressentimento contra os empresários no país. Para ele, o ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974) conseguiu capturar esse ressentimento.
O atual presidente diz que herdou do governo peronista de Alberto Fernández déficits gêmeos, fiscal e das transações correntes, em níveis "à beira de uma grande crise". Os déficits gêmeos representavam na sua posse em dezembro 17 pontos do PIB, dos quais 15 pontos eram de déficit fiscal, afirmou Milei. Nesse contexto, ele disse que não seria possível adotar uma abordagem gradual. Outro ponto é que, na sua opinião, o gradualismo "exige financiamento", o que a Argentina não consegue, por causa de seus desequilíbrios. "Era preciso parar de imprimir dinheiro, o que significava lidar com questões do déficit fiscal e do banco central. Então, nossa abordagem foi essa desde o primeiro dia", comenta.
Milei afirmou que o maior impacto do ajuste ocorreu durante janeiro e fevereiro. No primeiro trimestre, o governo conseguiu ajustar 13 dos 15 pontos de déficit fiscal, segundo ele. "Não há registro histórico de uma coisa dessas, não só na história argentina, mas na história mundial", afirmou.
Agora, o presidente vê os preços relativos "mais realistas" e diz que, como resultado, setores antes estagnados viam "forte expansão". Por outro lado, do lado do consumo, os de bens não duráveis não se mexeram muito, apontou. Na avaliação de Milei, a Argentina deve ter uma recuperação em "V", e neste momento o país está "no fundo" desse "V". Ele projeta uma reação agora e acrescenta que, quando os controles cambiais forem liberados, haverá um impulso adicional na atividade.
Milei também reafirmou que deseja "competição de moedas", sem dizer que isso representaria na verdade uma "dolarização" da economia.
Em outro momento da entrevista, o presidente argentino disse que considera os EUA um "aliado estratégico". Ele não quis tomar partido na potencial disputa entre o atual presidente, Joe Biden, e Donald Trump, ex-líder do país. Apesar de sua proximidade ideológica com Trump, Milei disse ter "excelentes relações" com o governo do democrata e muitos de seus funcionários.
Milei ainda disse que "sempre defendeu o direito de Israel à legítima defesa" e avaliou que o que o país tem feito na Faixa de Gaza está de acordo com as leis internacionais. Sobre a China, ele disse que "não forma alianças estratégicas com comunistas", mas acrescentou que "minha posição é que as pessoas podem fazer o que quiserem". Sobre uma visita da ministra das Relações Exteriores argentina ao país asiático, o presidente afirmou que ela conduz a agenda comercial e busca em sua agenda "manter o vínculo comercial".