O Equador deu sinal verde para a extradição de equatorianos procurados por outros países no referendo de domingo, no qual o presidente Daniel Noboa promoveu reformas legais e constitucionais para endurecer sua guerra contra o crime organizado e a violência das drogas que assola o país.
O "sim" venceu com 65% dos votos válidos, de acordo com a contagem oficial rápida, na pergunta sobre modificar a Constituição de estilo socialista de 2008, que estabelece que em nenhum caso será concedida a extradição de cidadãos.
Essa é a segunda tentativa de um governo em um ano de aprovar tal medida.
Em fevereiro de 2023, o ex-presidente Guillermo Lasso (2021-2023) propôs uma consulta semelhante que foi rejeitada com 52% dos votos.
A seguir, os principais pontos para entender o escopo da extradição no Equador:
1. Quando será implementada?
A rendição dos equatorianos ligados ao crime organizado transnacional é o grito de guerra de Noboa, de 36 anos, e ele está determinado a adotar uma linha dura contra as gangues locais associadas aos cartéis colombianos, mexicanos e albaneses.
Convertido em um centro de drogas devido à sua localização estratégica na costa leste do Pacífico e à economia dolarizada, o pequeno país está enfrentando sua pior crise de segurança. A taxa de homicídios subiu de 6 por 100.000 habitantes em 2018 para um recorde de 43 por 100.000 no ano passado.
A vitória do "sim" mudará a Constituição e a lei de extradição.
"A partir do dia em que os resultados (do referendo) forem proclamados no Registro Oficial (Diário Oficial), no Equador haverá oficialmente a extradição de equatorianos para solo estrangeiro", disse à AFP o advogado constitucionalista Ismael Quintana.
Peru e Colômbia, vizinhos do Equador e os maiores produtores de cocaína do mundo, permitem a extradição de seus nacionais.
2. Tipos de extradição
No Equador, a extradição "ativa" está em vigor atualmente. Em outras palavras, o sistema judiciário pode solicitar a entrega de um cidadão nacional ou estrangeiro ao território equatoriano para ser processado.
A reforma aprovada estabelece "a extradição de equatorianos para solo estrangeiro, o que em termos legais é chamado de extradição passiva", explicou Quintana.
A partir de agora, um equatoriano que tenha cometido um crime em outro país poderá ser entregue, se necessário.
A Constituição de 2008 proíbe a extradição de cidadãos equatorianos e afirma que seu processo estará sujeito à lei equatoriana.
"A extradição proposta por Noboa é uma extradição completa", o que significa que "por qualquer crime um cidadão equatoriano poderia ser extraditado", embora convenções internacionais como as de Caracas e Montevidéu "estabeleçam certas exceções", disse o especialista.
Para Mauricio López, um funcionário privado de 36 anos que votou a favor da extradição em Quito, a medida causará "medo" entre os criminosos como um mecanismo de persuasão e será "uma forma mais rigorosa de punir as pessoas", disse ele à AFP.
3. Os limites
"A extradição não será concedida por crimes políticos e conexos, com a exclusão de terrorismo, crimes contra a humanidade e outros estabelecidos em convenções internacionais", especifica a emenda autorizada nas urnas.
Quintana ressaltou que "a extradição tem alguns limites" estabelecidos por tratados internacionais.
"Não é possível extraditar alguém que vai ser julgado para receber ou ser submetido a tratamento ou pena desumana, cruel ou degradante", disse ele.
As normas internacionais excluem extradições por motivos de perseguição política, crimes militares ou religiosos.
De acordo com o constitucionalista, há outra condição para que a extradição seja concedida, que é a chamada "dupla incriminação", o que significa que o crime pelo qual uma pessoa é solicitada também deve ser definido na legislação nacional.
Quando "a extradição é concedida, devem ser observados os requisitos mínimos estabelecidos pela legislação nacional e pelos instrumentos internacionais dos quais o Equador é signatário", advertiu.
* AFP