A polícia equatoriana invadiu, na noite desta sexta-feira (5), a embaixada do México, em Quito, e deteve o ex-vice-presidente Jorge Glas, que se refugiava no local desde dezembro, o que levou ao rompimento das relações diplomáticas entre os dois países.
"Instruí o nosso chanceler a emitir uma declaração sobre este ato autoritário, proceder legalmente e declarar imediatamente a suspensão das relações diplomáticas com o governo do Equador", escreveu o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, na rede social X (antigo Twitter).
O Equador defendeu a medida alegando que houve “abuso das imunidades e privilégios” concedidos à missão diplomática, conforme comunicado da Secretaria de Comunicação da presidência (Segcom).
Em imagens divulgadas pela mídia local, é possível ver homens uniformizados entrando na embaixada, localizada no norte de Quito e vigiada por policiais e militares, para prender Glas.
A ministra das Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, denunciou, no X, “os ferimentos sofridos pelo pessoal” da embaixada durante a operação policial e alertou que o país recorrerá à Corte Internacional de Justiça para denunciar o Equador.
O ex-vice-presidente equatoriano foi condenado a seis anos de prisão por corrupção. Glas é considerado culpado de receber propina da construtora Odebrecht em troca da concessão de contratos governamentais em 2017.
O Ministério das Relações Exteriores do Equador acusou o México de violar acordos de asilo político e solicitou permissão ao país mexicano para entrar na embaixada em Quito e prender Glas.
O encarregado da Embaixada do México no Equador, Roberto Canseco, denunciou o incidente como um "atropelo ao direito internacional" e uma "barbárie".
Enquanto isso, o governo equatoriano, em um comunicado oficial, reiterou seu compromisso em não permitir que criminosos fiquem impunes, referindo-se a Jorge Glas, e expressou seu respeito pelo povo mexicano e pela importância das relações entre os dois países.
Origem da crise
A tensão entre México e Equador começou a se intensificar após declarações feitas pelo presidente López Obrador a respeito das eleições no Equador em 2023.
Segundo o portal g1, na quarta-feira (3), Obrador comparou o assassinato de Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, à violência que assola a atual temporada eleitoral no México.
Villavicencio foi morto em agosto de 2023, após um comício em Quito. Enquanto isso, no México, vários candidatos locais foram vítimas de assassinato nas últimas semanas, em meio ao clima de pré-eleição. As eleições mexicanas estão agendadas para junho deste ano.
O presidente mexicano também sugeriu que a candidata de esquerda Luisa González, derrotada nas eleições equatorianas, foi injustamente associada ao assassinato de Villavicencio. Obrador culpou ainda a mídia equatoriana, acusando-a de corrupção.
Em resposta, o governo equatoriano considerou as falas de Obrador "infelizes" e, como medida de retaliação, declarou a embaixadora mexicana "persona non grata", um termo jurídico para indicar que um representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo no país anfitrião.