Duas semanas antes do início da campanha presidencial, dezenas de milhares de opositores mexicanos se manifestaram, neste domingo (18), por um "voto livre", enquanto a líder governista Claudia Sheinbaum, favorita nas pesquisas, formalizava sua candidatura.
Vestidos de branco e rosa, os críticos do presidente de esquerda Andrés Manuel López Obrador lotaram o Zócalo — principal praça da Cidade do México, ao lado do Palácio Nacional, a sede do governo.
"Nossa democracia não será tocada", dizia uma faixa estendida no palco onde vários líderes discursaram a menos de três meses das eleições de 2 de junho.
Também neste domingo, Claudia Sheinbaum, física e ex-prefeita da capital, de 61 anos, registrou sua candidatura no Instituto Nacional Eleitoral (INE) acompanhada de centenas de simpatizantes.
—Após 200 anos da República, uma mulher transformadora chegará à presidência. Isso é um símbolo de que estamos deixando para trás o México machista — afirmou a candidata, prometendo não se submeter a "nenhum poder econômico, político ou estrangeiro".
Ela conta com 64% das preferências, de acordo com um consolidado de pesquisas feito pela firma Oraculus, o que fortalece a possibilidade de uma mulher governar o México pela primeira vez, segunda maior economia da América Latina depois do Brasil.
— Ela tem tudo para ganhar. É necessário que uma mulher preparada como ela vença. Elevará o país a uma posição superior em termos econômicos, políticos, administrativos e sociais — disse à agência de notícias AFP Guadalupe Carreño, de 54 anos, no INE.
Em um segundo lugar distante, com 31% de apoio, está a senadora de origem indígena Xóchitl Gálvez, candidata de uma coalizão dos partidos tradicionais PRI, PAN e PRD, que se apresenta com uma proposta de centro-direita.
Reformas questionadas
Embora as leis mexicanas proíbam manifestações a favor de candidatos antes da campanha, que começará em 1º de março, o protesto opositor deste domingo reuniu potenciais eleitores de Xóchitl Gálvez, de 60 anos.
O ato foi promovido por organizações civis que afirmam ter reunido cidadãos em uma centena de localidades do país e algumas no Exterior para denunciar a suposta intervenção ilegal de López Obrador na campanha.
— Hoje, no poder, aquele que chegou ao primeiro andar pelo livre desejo dos cidadãos pretende destruir essa escada para que mais ninguém possa transitá-la — declarou Lorenzo Córdova, ex-presidente do INE e principal orador da manifestação.
— As reformas enviadas pelo presidente (ao Congresso) atacam as instituições independentes (...), é necessário vir defendê-las — justificou Jorge Reyes, estudante de 18 anos, em declarações à AFP.
Ele se refere a um pacote de emendas do governo que propõem desde um aumento nas pensões até a eliminação de organismos descentralizados.
López Obrador, cuja popularidade supera os 60%, classificou o protesto como uma "manifestação para defender a corrupção" e questionou se os organizadores realmente se importam com a democracia.
Estratégia insuficiente
Os organizadores alegam que o governo faz propaganda, desvia recursos e usa os beneficiários de seus vastos programas sociais para favorecer Sheinbaum, que neste domingo denunciou a "falsidade e hipocrisia" desses líderes.
— Marcham pela democracia quando em seu momento promoveram fraudes eleitorais ou nunca viram a compra de votos, ou esqueceram de respeitar os povos indígenas, promovendo a discriminação e o classismo — disse Sheinbaum.
Para o analista político Fernando Dworak, a mobilização da oposição foi limitada porque sua única causa concreta é o "antilopezobradorismo", mas não oferece uma proposta clara ou atraente em comparação com a do governo atual.
Dworak acredita que Gálvez precisa mais do que "antilopezobradorismo" para conquistar eleitores que rejeitam a continuidade representada por Sheinbaum, mas que também não querem "o retorno dos partidos tradicionais".
Um terceiro candidato, Jorge Álvarez Máynez, do partido Movimento Cidadão (centro-esquerda), está em terceiro lugar, com 5% das intenções de voto, segundo a Oraculus.