O primeiro navio com suprimentos de ajuda humanitária é visível nesta sexta-feira (15) da costa da Faixa de Gaza, onde centenas de milhares de civis ameaçados pela fome depois de mais de cinco meses guerra entre Israel e Hamas aguardam a chegada da embarcação.
O navio da ONG espanhola "Open Arms", com 200 toneladas de alimentos, zarpou na terça-feira (12) do porto cipriota de Larnaca e utilizou um novo corredor marítimo para seguir em direção ao pequeno território palestino, submetido a um cerco das tropas de Israel desde 9 de outubro.
A ONU alerta para o risco de fome no território, em particular no norte, de difícil acesso e onde vivem quase 300 mil pessoas atualmente.
Em um cenário de extrema necessidade, o movimento terrorista Hamas, que governa Gaza desde 2007, acusou o Exército israelense de atirar a partir de "tanques e helicópteros" contra pessoas que aguardavam a distribuição de farinha numa pequena praça na Cidade de Gaza.
Os disparos deixaram pelo menos 20 mortos e 155 feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. O Exército israelense afirmou que "palestinos armados" abriram fogo contra a multidão.
Ajuda por mar e ar
Diante da ameaça de fome, vários países tentam entregar ajuda humanitária por terra, mar e ar ao território, onde os combates prosseguem depois do fracasso de uma tentativa de trégua antes do período do Ramadã.
A ajuda por via terrestre chega principalmente do Egito, pelo posto de fronteira de Rafah, no extremo sul de Gaza, depois de ser inspecionada por Israel, mas é insuficiente diante da grave escassez de insumos para os 2,4 milhões de moradores de Gaza.
A presidente da WCK, Erin Gore, reconheceu que a ajuda "não é suficiente" e anunciou que a ONG está preparando um segundo navio com centenas de toneladas de mantimentos.
Uma equipe da ONG em Gaza está construindo um cais flutuante para descarregar os alimentos e distribuí-los entre a população palestina.
— Esperamos descarregar a ajuda assim que for possível atracar, mas muitos fatores influenciam a operação complicada — disse Gore.
Diversas ONGs, incluindo Anistia Internacional e Oxfam, alertaram que as operações humanitárias "não são uma alternativa" às entregas por via terrestre.
No norte de Gaza, Mojles al Masry, um deslocado de 27 anos, passou horas olhando para o céu e aguardando, sem sorte, a queda de pacotes de ajuda.
— Não há comida para alimentar nossos filhos. Não conseguimos encontrar leite infantil. Estamos andando em círculos desde o início da manhã, esperando que um avião libere um paraquedas — disse.
O conflito
O conflito começou em 7 de outubro, com o ataque do Hamas em território israelense: 1.160 pessoas foram assassinadas, a maioria civis, segundo um balanço baseado nos dados divulgados pelas autoridades israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o movimento islamista e iniciou uma campanha militar que deixou 31.490 mortos até o momento, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Os islamistas sequestraram mais de 250 pessoas e 130 continuam detidas em Gaza, das quais 32 teriam sido mortas, segundo Israel.
Catar, Egito e Estados Unidos, países mediadores do conflito, tentaram, sem sucesso, concluir um acordo de trégua e libertação de reféns antes do período sagrado muçulmano.
Na quinta-feira, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, considerou "pouco realistas" as exigências do Hamas.
Para derrotar completamente o movimento islamista, Netanyahu deseja expandir a operação terrestre a Rafah, onde quase 1,5 milhão de pessoas estão aglomeradas.