Os haitianos aguardam a nomeação de um conselho presidencial de transição nesta sexta-feira (15), após a renúncia do controverso primeiro-ministro Ariel Henry, com esperanças cautelosas de que as novas autoridades estabilizem uma situação "explosiva" no país caribenho, segundo a ONU.
Depois de alguns dias de tranquilidade, a violência de gangues voltou a Porto Príncipe na quinta-feira. Em várias estradas da capital, os moradores montaram barricadas com pneus incendiados para se protegerem dos ataques dos criminosos, mas também em sinal de protesto, segundo um correspondente da AFP.
Na véspera, houve disparos no aeroporto da cidade e um policial foi ferido nas proximidades. Além disso, a casa do diretor-geral da polícia foi saqueada e incendiada, segundo um sindicato policial.
As autoridades prorrogaram o toque de recolher noturno até domingo no departamento Oeste, que inclui Porto Príncipe, na tentativa de "recuperar o controle da situação".
A região está em estado de emergência até 3 de abril, mas ambas as medidas mal conseguiram deter as gangues, que controlam 80% da capital.
"Há muitos foragidos das prisões nas ruas. A situação continua piorando. A decisão de declarar estado de emergência no Haiti com toque de recolher de um mês é louvável [...], mas não deveria ser assim", lamentou Edner Petit, morador de Porto Príncipe.
A situação continua "explosiva e tensa" na cidade, garantiu nesta sexta-feira o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês).
- Negociações políticas em andamento -
Desde o início do mês, a capital sofreu inúmeros ataques de gangues, que se uniram para desafiar o primeiro-ministro Henry.
O político, que assumiu o poder após o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, anunciou a sua renúncia na madrugada de terça-feira, após dias de pressão internacional e local.
Segundo uma proposta supervisionada pela Comunidade do Caribe (Caricom), um conselho presidencial de transição assumirá as rédeas do país até a realização de novas eleições.
O grupo terá sete membros com direito a voto, que representarão as principais forças políticas do país e o setor privado. Uma vez formado, terá que eleger um primeiro-ministro interino e nomear um governo "inclusivo".
Vários dos partidos eleitos submeteram o nome do seu representante à Caricom, disseram várias fontes à AFP.
A princípio, os integrantes do Coletivo 21 de Dezembro, grupo de Ariel Henry, não chegaram ao consenso de um único representante e nomearam três. Mas estão em negociações para um candidato consensual, segundo fontes próximas das negociações.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse nesta sexta-feira que acreditava que o Conselho sairá do papel "nos próximos dias".
- Catástrofe humanitária -
Enquanto aguarda os avanços da transição política, o Haiti sofre uma insegurança permanente. A missão internacional supervisionada pela ONU, com a polícia do Quênia, suspendeu a sua intervenção até que as novas autoridades sejam designadas.
A população, por sua vez, paga as consequências da violência desencadeada.
De acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMA), 44% da população haitiana sofre de insegurança alimentar aguda.
Os Estados Unidos prometeram nesta sexta-feira 25 milhões de dólares (124,4 milhões de reais na cotação atual) em ajuda humanitária, que se somarão aos 33 milhões de dólares (164,2 milhões de reais) anunciados há poucos dias por Blinken.
Estes fundos serão utilizados, entre outras coisas, para apoiar a ONU e as ONGs na entrega de alimentos, cuidados de saúde e água potável.
A ONU também trabalha no estabelecimento de uma ponte aérea a partir da vizinha República Dominicana para facilitar a chegada de ajuda humanitária.
* AFP