A Espanha e a União Europeia prestam homenagem nesta segunda-feira (11) às 192 vítimas de 17 nacionalidades mortas há 20 anos em um atentado a bombas em Madri que deixou quase dois mil feridos e que foi o primeiro de uma série de grandes ataques islamistas na Europa.
A cerimônia oficial, presidida pelos reis da Espanha, Felipe VI e Letícia, começou às 11h15min (8h15min em Brasília), na Galeria das Coleções Reais, um museu ao lado do Palácio Real, no centro da capital espanhola.
A data dos atentados suscitou a criação do Dia Europeu das Vítimas do Terrorismo, e o ato foi organizado pela Comissão Europeia.
— Quem conheceu de perto aquela manifestação extrema de violência jamais poderá esquecê-la — disse o presidente de Governo, Pedro Sánchez, no discurso em que abriu o ato.
Foi "um dia que fraturou nossas vidas de forma irreparável", assegurou, por sua vez, Ana Cristina López Royo, que perdeu seu marido nos atentados de Madri, e que era uma das três vítimas ou familiares de vítimas de atentados, que discursou no ato.
Além disso, ao longo do dia, ocorrerão os atos em memória. O primeiro aconteceu às 9h locais (5h em Brasília) na praça da Porta do Sol, com a participação do prefeito da cidade e a presidente da comunidade autônoma de Madri, que depositaram uma coroa.
No local onde as bombas explodiram há 20 anos, os familiares das vítimas depositaram flores, velas e fotos de quem morreu.
Na estação de Atocha, epicentro dos atentados, os pedestres apresentavam suas condolências ante um monumento comemorativo subterrâneo azul inaugurado no dia anterior, em substituição a outro que havia sido desmontado por causa das obras de ampliação de uma linha de metrô.
Em 11 de março de 2004 (11-M), 10 bombas com temporizadores colocadas em quatros trens com destino à estação de Atocha explodiram no intervalo de alguns minutos, no atentado jihadista mais sangrento do século 21 na Europa.
"Um antes e um depois"
Confrontada há anos com a violência da organização armada independentista basca ETA, a Espanha estava habituada aos atentados, mas o de 11-M foi sem precedentes.
Os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos, que deixaram cerca de três mil mortos, haviam acontecido dois anos e meio antes, mas no primeiro momento não se pensou que os atentados de Madri fossem de responsabilidade da Al-Qaeda, a organização de Osama bin Laden.
— Em 11 março de 2004, há 20 anos, o terrorismo islamista golpeou maciçamente a Europa pela primeira vez — recordou, nesta segunda-feira, o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, na localidade francesa de Arras. — Essa data permanece como um antes e um depois para o nosso continente. Nos demos conta de que nós também éramos alvos. Compreendemos isso da pior maneira — acrescentou, durante uma cerimônia de homenagem às vítimas de terrorismo.
O atentado de Madri ocorreu em um ambiente político aquecido, na reta final de uma campanha eleitoral para legislativas previstas para três dias depois.
Naquele momento, o conservador Partido Popular do presidente de Governo sainte, José María Aznar, era favorito frente ao Partido Socialista de José Luis Rodríguez Zapatero.
Um ano antes, a Espanha havia se unido aos Estados Unidos para participar da invasão do Iraque de Saddam Hussein, apesar da oposição da opinião pública.
Três condenados ainda estão na prisão
Uma vez ocorrido o atentado, o governo de Aznar acusou o ETA de estar por trás do massacre, e seguiu insistindo na tese, apesar dos indícios apontarem para o jihadismo.
A hipótese do ETA arrefeceu rapidamente. Os investigadores localizaram três bombas em mochilas que não explodiram, que os colocaram na pista dos autores, e, na mesma noite do ocorrido, descobriram sete detonadores e uma gravação de versículos do Alcorão em uma caminhonete roubada em Alcalá.
Dois dias depois, uma fita de vídeo na qual a Al-Qaeda reivindicava os ataques em "resposta" à participação da Espanha na guerra do Iraque.
No dia 14 de março daquele ano, os espanhóis votaram maciçamente e deram a vitória aos socialistas, uma vitória explicada em boa parte pela má gestão de comunicação da catástrofe pela direita, segundo observadores.
Depois de três anos de instrução, outros 29 acusados, vários deles marroquinos, foram julgados em um longo processo em 2007.
Após o processo e os recursos posteriores, a Justiça espanhola condenou 18 pessoas. Apenas três pessoas seguem na prisão, dois marroquinos e o espanhol que lhes forneceu os explosivos. Ficarão atrás das grades até 2044, se nada mudar.