A paz entre Guiana e Venezuela em meio à disputa pelo território do Essequibo, a segurança no combalido Haiti e os créditos de carbono: estes são os pontos-chave da agenda da cúpula de chefes de governo da Comunidade do Caribe (Caricom), reunidos desde domingo (25) em Georgetown.
O bloco caribenho, majoritariamente de língua inglesa e culturalmente afastado dos demais países da América Latina, reúne-se na capital da Guiana até quarta-feira (28), dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegará como "convidado especial".
- "Modelo" para o mundo -
No fim de sua gestão na presidência da Caricom, o primeiro-ministro da República Dominicana, Roosevelt Skerrit, comemorou com "imenso orgulho" o resultado da reunião entre os presidentes da Venezuela e Guiana, Nicolás Maduro e Irfaan Ali, em dezembro, para garantir a paz diante do temor regional por um conflito em torno da questão de Essequibo, território rico em petróleo.
"Nós o conseguimos como grupo quando nos reunimos como família em dezembro em São Vicente e Granadinas para abordar com maturidade as tensões entre dois irmãos", afirmou Skerrit em seu discurso durante a cerimônia inaugural de domingo.
"Fomos notícia internacional, não pelos tumultos, a guerra ou a violência, mas sim por acolher deliberações maduras e proativas que criaram um modelo que outros no mundo fariam bem em seguir", acrescentou.
Desde o pacto de não agressão, a tensão se alternou entre a calma atual e a mobilização das tropas pela presença de um navio de guerra enviado pelo Reino Unido para "manobras de rotina".
Lula, também um protagonista na mediação entre os dois países, deve abordar o tema durante sua visita.
Irfaan Ali, que assume a presidência da Caricom, pediu investimento na "segurança da região" e o apoio dos Estados Unidos, aliados de Georgetown e inimigos declarados de Caracas.
- Ajuda ao Haiti "para ontem" -
Os líderes do bloco destacaram a posição instável do Haiti, o país mais pobre da região, assolado por uma grave crise política, de segurança e humanitária, com grupos armados que assumiram o controle de áreas inteiras.
"Precisamos ajudar o Haiti para ontem", insistiu Skerrit, ressaltando que o país necessita do apoio "de todo o mundo".
"Estamos comprometidos, como região, a garantir que o povo do Haiti também possa desenvolver todo o seu potencial de paz, segurança e bom governo", afirmou Ali, destacando as reuniões que abordarão estas questões na cúpula.
O Haiti aguarda a chegada de uma força policial multinacional para ajudar na segurança do país, em meio a uma crescente pressão política sobre o premiê Ariel Henry.
Sem presidente desde o assassinato do mandatário Jovenel Moise em 2021, o país caribenho não realiza eleições desde 2016. Há três semanas, milhares de pessoas protestaram pedindo a saída de Henry e o cumprimento do calendário de transição de poder assinado em 2022.
O tema também deve estar na pauta da cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em 1º de março em São Vicente e Granadinas.
- Milhões para a região -
A Guiana, cuja superfície é composta em 89% por florestas virgens, prometeu para a Caricom US$ 2 milhões (R$ 9,9 milhões) dos US$ 750 milhões (R$ 3,7 bilhões) vendidos em créditos de carbono ao grupo americano Hess, anunciou Ali.
A esta quantia somam-se outros US$ 3 milhões (R$ 14,9 milhões) da petrolífera ExxonMobil, responsável pela exploração neste país e protagonista de uma disputa com a Venezuela por "projetos sustentáveis para aumentar a resiliência e melhorar a produtividade na região, incluindo a segurança alimentar", acrescentou o presidente.
Segundo ele, um dos objetivos do Caribe é acabar com a fome e a desnutrição - que afetam quase 45 milhões de pessoas, 57% da população - até 2030, ao mesmo tempo em que anunciou projetos agropecuários junto a parceiros internacionais como o Brasil.
Ali insistiu, ainda, na eliminação de tarifas alfandegárias no Caribe. "Somos pequenos demais para competir uns com os outros", declarou.
* AFP