A eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos começa oficialmente nesta segunda-feira (15), quando os republicanos do estado agrícola de Iowa se dirigem aos ginásios escolares e bibliotecas públicas para deliberar sobre quem deve se tornar o candidato de seu partido na disputa pela Casa Branca.
De 3 milhões de habitantes, este Estado do Centro-Oeste se orgulha do sistema incomum de caucus, ou reuniões partidárias, que usa para determinar quantos delegados representarão seus respectivos candidatos nas convenções nacionais de nomeação dos partidos.
O que é um caucus?
Em um caucus, os participantes mostram fisicamente sua preferência por um determinado pré-candidato, reunindo-se com outros eleitores com ideias semelhantes em um local designado em uma sala, em total contraste com o sigilo de uma cabine de votação.
A votação, da qual participam membros registrados do partido, acontece em etapas.
Para os democratas, os candidatos normalmente precisam do apoio de pelo menos 15% dos eleitores presentes para se qualificarem para uma segunda rodada. Os apoiadores dos pré-candidatos que não atingem esse limite têm três opções durante um segundo turno, que é realizado imediatamente.
Podem se deslocar para outra parte da sala para apoiar outro pré-candidato finalista; podem tentar convencer seus pares a ajudá-los a impulsionar seu próprio pré-candidato para além da barreira dos 15%; ou podem não votar.
O procedimento é similar para os republicanos, embora entre eles não exista um limite mínimo que os pré-candidatos devam atingir para obter delegados. Os defensores deste costume peculiar elogiam-no por seu caráter participativo.
O status especial de Iowa
Os observadores políticos acompanham Iowa de perto, já que os resultados nesse Estado — que desde a década de 1970 foi programado para votar primeiro no calendário político do país — muitas vezes influenciam os resultados das primárias e os "caucuses" seguintes.
Isto significa que a dimensão e a eficácia das primeiras operações dos pré-candidatos em Iowa são importantes para seu sucesso no longo prazo, apesar dos relativamente poucos delegados eleitorais em jogo nesse Estado.
Problemas no sistema
A participação comunitária exigida em um caucus não é apreciada da mesma forma por todo o mundo. Alguns eleitores se sentem desanimados com a ideia de passar uma longa tarde de segunda-feira, debatendo com uma multidão de estranhos. Outros têm de enfrentar desafios logísticos, seja pelo clima frio, pelas obrigações de trabalho, ou pela necessidade de cuidar dos filhos.
Os críticos reclamam do "status" de Iowa, argumentando que um Estado com uma população tão pequena, de perfil demográfico muito mais branco do que a média, não deveria ocupar uma posição tão influente.
Em 2020, o sistema esteve perto do colapso entre os democratas, quando um novo aplicativo móvel destinado a oferecer mais transparência e rapidez na contagem dos votos falhou e permitiu apenas contagens parciais.
Os resultados finais foram adiados por três dias, e o presidente do Partido Democrata no Estado acabou renunciando.
O ciclo de 2024
Geralmente realizados em fevereiro, os "caucuses" de Iowa este ano acontecem bem antes, em 15 de janeiro.
Os democratas estão conduzindo suas operações no Estado de forma ligeiramente diferente do que em outros anos. Os membros do partido se reunirão, como sempre, no dia do caucus para discutir sobre pré-candidatos e outras questões, mas agora indicarão sua preferência por correio antes de 5 de março.
E, desta vez, há muito menos democratas concorrendo no Estado, já que parece provável que o presidente Joe Biden conseguirá a indicação do partido.
Do lado republicano, os eleitores escolherão entre vários pré-candidatos, embora o ex-presidente Donald Trump esteja bem à frente de seus oponentes nas pesquisas.
Trump é franco favorito em Iowa
Eleitores de Iowa devem enfrentar temperaturas congelantes, na noite desta segunda-feira, para participar do caucus republicano. As últimas pesquisas antes do pleito apontam significativa vantagem do ex-presidente Donald Trump, embora o frio recorde possa diminuir a participação.
A expectativa é de que os eventos comecem às 22h (horário de Brasília), em mais de 1,5 mil escolas, igrejas e centros comunitários. No último sábado (13), um levantamento liderado pelo jornal Des Moines Register, que tem histórico de acerto no Estado, mostrou Trump com 48% das intenções de voto, uma ligeira queda em relação aos 51% indicados na sondagem anterior, em dezembro.
Bem atrás, a ex-embaixadora dos EUA na ONU Nikki Haley subiu para a segunda colocação, com 20% da preferência, enquanto o governador da Flórida, Ron DeSantis, aparece em terceiro lugar, com 16%.
A onda de frio, no entanto, representa uma fonte de incertezas para as campanhas. Na capital Des Moines, a previsão aponta para uma sensação térmica que pode superar -30ºC na noite desta segunda, de acordo com o The Weather Channel.
Na tentativa de manter o engajamento dos eleitores, Trump disse, no domingo (14), aos apoiadores para não deixarem de votar, apesar do frio.
— Se você está muito doente, você diz: "Querida, eu preciso fazer isso". Mesmo que você vote e depois faleça, valerá a pena — declarou.
Independentemente da eventual vitória de Trump, a margem do triunfo será importante para balizar a força dos outros postulantes. Isso porque Iowa distribui delegados de maneira proporcional. Assim, se conseguirem reduzir a distância para o ex-presidente, Haley e DeSantis, podem seguir vivos na corrida, antes das primárias de New Hampshire, agendadas para 23 de janeiro.