Ante o rápido avanço dos paramilitares no Sudão, intensificaram-se os apelos para que os civis se armem, aumentando o temor de uma guerra civil total em um país que arrasta oito meses de conflito entre generais rivais.
Em sua guerra contra o Exército, as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR) tomaram a maior parte do estado de Al Jazira, no sul, incluindo sua capital, Wad Madani, e avançaram rumo ao estado de Sennar, onde conquistaram alguns territórios.
Com denúncias crescentes de abusos cometidos por combatentes das FAR, grupos de civis começaram a convocar uma "resistência popular armada" nos estados sudaneses do Nilo Branco, Rio Nilo, Gedaref, Norte, Kassala e Mar Vermelho.
Em uma reação, as FAR ordenaram aos habitantes dessas áreas que forneçam voluntários para armá-los, a fim de "proteger seu território".
O chefe do Exército, Abdel Fattah al Burhan, e o comandante das FAR, seu ex-aliado Mohamed Hamdan Daglo, enfrentam-se em combates iniciados em 15 de abril.
A violência deixou mais de 12.000 mortos, segundo uma estimativa do Projeto de Dados sobre Localização e Acontecimentos de Conflitos Armados. Segundo a ONU, pelo menos 7,1 milhões de pessoas foram deslocadas, incluindo 1,5 milhão que se refugiaram em países vizinhos.
Na semana passada, em uma manifestação na cidade de Shendi, no norte do estado do Rio Nilo, o governador Mohammed Badawi anunciou: "vamos treinar jovens em armas para que possam defender suas terras e sua honra, e proteger as famílias da rebelião" das FAR.
Na cidade costeira de Suakin, ao sul de Porto Sudão, o líder tribal Beja Mohammed al-Amin Turk disse que "estamos prontos para pegar em armas (contra as FAR) para a vitória".
E, em uma aldeia a oeste de Al Jazira, um morador, que pediu para não ser identificado, disse à AFP que os paramilitares já distribuíram armas.
"As FAR estão armando muitos jovens em cada aldeia, dando-lhes (fuzis) Kalashnikovs e um ou mais carros, dependendo do tamanho da aldeia", relatou.
- Temor de guerra civil -
A proliferação de armas suscitou temores de que o conflito se estenda para além do Exército e das FAR. De acordo com o projeto Estudo de Armas de Pequeno Porte, 6,6% dos 48 milhões de habitantes do Sudão possuem armas.
Os riscos são especialmente graves na vasta região ocidental de Darfur, marcada pela violência sangrenta na década de 2000, que deixou cerca de 300.000 mortos.
A maior parte do conflito atual atingiu, em especial, Darfur, Kordofan, ao sul, e a capital, Cartum.
Em maio, a ONU advertiu que civis armados, combatentes tribais e grupos rebeldes já pegaram em armas em Darfur.
Os apelos para armar mais civis "são desastrosos", declarou à AFP um oficial de segurança sudanês, que pediu para não ser identificado.
"Alimentam o fogo em um país que já sofre com a proliferação de armas", comenta.
Uma agência governamental responsável pela coleta de armas estimou que, até ao final de 2022, "cinco milhões de armas estavam nas mãos de civis, excluindo as de grupos rebeldes nos estados de Darfur, Kordofan do Sul e Nilo Azul".
* AFP