O Paquistão deu um prazo de até 1º de novembro a 1,7 milhão de afegãos, que estariam vivendo irregularmente, para que deixem o país e assegura que, caso não o façam, serão presos e deportados.
O recrudescimento dos atentados, a crise econômica e as tensões com o governo afegão explicam tal decisão, segundo analistas.
- Por que há tantos afegãos no Paquistão? -
O Paquistão é um dos países que mais acolhem refugiados no mundo, em sua grande maioria afegãos, que chegaram fugindo da guerra nas últimas quatro décadas. A maioria vive na província de Khyber Pakhtunkhwa, fronteiriça com o Afeganistão.
Segundo os últimos dados da ONU, no Paquistão há aproximadamente 1,3 milhão de refugiados afegãos registrados. As autoridades paquistanesas estimam em 1,7 milhão os afegãos que vivem irregularmente em seu território.
O Paquistão não é signatário das convenções internacionais relativas ao estatuto dos refugiados nem tem uma legislação nacional que garanta sua proteção.
- Por que o Paquistão decidiu expulsar os afegãos? -
O governo usa a justificativa da deterioração da segurança no noroeste do país, na fronteira com o Afeganistão, onde os atentados se multiplicam.
Em outubro, quando o ministro paquistanês do Interior, Sarfraz Bugti, anunciou a data-limite para as saídas voluntárias, o funcionário indicou que vários ataques suicidas ocorridos desde janeiro foram cometidos por cidadãos afegãos.
Durante anos, o aparato militar e de Inteligência paquistanês foi acusado de apoiar a insurreição dos talibãs no Afeganistão.
Mas as relações entre os dois países ficaram mais tensas depois da chegada dos talibãs ao poder em Cabul em 2021. Islamabad acusa-os de permitir que os talibãs paquistaneses do Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP) preparem ataques contra o Paquistão, a partir do território afegão, acusação que Cabul nega.
O Paquistão também reforçou os controles fronteiriços para frear o contrabando, que considera um agravante para suas dificuldades econômicas.
- Como serão as retiradas? -
Os afegãos têm até quarta-feira para saírem por conta própria. Mas, em Karachi, muitos acusam a polícia de realizar buscas e fechar comércios.
A partir de quinta-feira, os indocumentados serão levados para centros de detenção, onde permanecerão presos antes de serem expulsos.
Milhares de famílias afegãs preferiram ir embora logo e, há dias, apressaram-se para cruzar a fronteira.
- Como a iniciativa foi recebida no Paquistão? -
As autoridades do Paquistão acusam os migrantes afegãos de fomentar o extremismo e a criminalidade e afirmam que são um peso para a infraestrutura e para a economia nacionais.
Confrontada com uma inflação desenfreada nos dois últimos anos, a população paquistanesa parece apoiar majoritariamente a iniciativa, segundo os observadores.
Também há setores que pedem a adoção de uma atitude menos intransigente, dando mais tempo para que os afegãos deixem o país.
- Quais são as consequências para os afegãos e seu país? -
Frequentemente, esses afegãos estão em acampamentos com acesso limitado à educação, à atenção de saúde e ao emprego.
No entanto, alguns vivem no Paquistão há décadas, ou nasceram no país, considerando-o seu país, sem saber nada sobre o Afeganistão.
No passado, as autoridades paquistanesas já haviam considerado a possibilidade de obrigá-los a ir embora, mas o conflito no Afeganistão impediu-as de tomar tal atitude.
A melhora da segurança no Afeganistão desde agosto de 2021 permite a aplicação da medida, denunciada como "cruel e bárbara" por Cabul.
As organizações de direitos humanos destacam os riscos do retorno dos afegãos, alguns dos quais temem ser alvo de represálias por parte dos talibãs.
Para as mulheres, voltar também significa perder liberdades, desde que as autoridades talibãs proibiram as meninas de irem à escola após o ensino fundamental.
* AFP