A oposição de centro e pró-União Europeia obteve a maioria nas eleições legislativas deste domingo (15) na Polônia, derrotando os populistas e nacionalistas do Lei e Justiça (PiS), atualmente no governo, e um partido de extrema direita, segundo pesquisas de boca de urna.
O resultado destas eleições é crucial para o futuro das relações da Polônia com a União Europeia (UE) e com a vizinha Ucrânia.
Se os resultados forem confirmados, estas eleições colocam um ponto final aos oito anos de governo do PiS de Jaroslaw Kaczynski.
Os três partidos de oposição, Coalizão Cívica (KO), a Terceira Via e a Esquerda, obtiveram juntos 248 cadeiras na assembleia de 460 deputados, contra 212 assentos para o PiS e a Confederação (extrema direita).
"A Polônia venceu! Venceu a democracia! Expulsamos eles do poder [...] este é o fim do reinado do PiS", declarou Donald Tusk, presidente da Coalizão Cívica, imediatamente depois da publicação das pesquisas.
Tusk, de 66 anos, foi primeiro-ministro da Polônia entre 2007 e 2014, e presidente do Conselho Europeu de 2014 a 2019.
Durante a campanha, prometeu restabelecer as boas relações com a UE e desbloquear os fundos europeus congelados por Bruxelas devido às disputas durante os dois mandatos de governo do PiS.
Tusk também prometeu liberar o direito ao aborto, um ponto importante de desacordo com o governo do PiS, que destaca os valores católicos.
Por sua vez, o líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, elogiou o sucesso relativo de seu partido, que terá 200 cadeiras, mas que não se traduz em uma maioria que lhe permita formar governo.
Mas "estando no poder ou na oposição, [...] não permitiremos que a Polônia seja traída", disse.
Para Stanislaw Mocek, cientista político e presidente da Universidade Collegium Civitas, agora existe "a possibilidade de surgir um governo de oposição".
"Acho que isto é, na realidade, o fim do governo do PiS [...] Esta é uma oportunidade para reconstruir nossa posição, primeiramente na Europa", garantiu.
- 'Hora de uma mudança' -
Segundo as pesquisas de boca de urna, a taxa nacional de participação foi de 72,9%, um recorde absoluto desde a queda do comunismo em 1989. Correspondentes da AFP viram algumas seções eleitorais completamente lotadas.
Muitos eleitores manifestaram sua frustração com o governo.
"É hora de uma mudança", disse à AFP Ewa Bankowska, uma mulher de 43 anos que trabalha com finanças, enquanto votava em Halinow, nas imediações de Varsóvia.
"A economia me preocupa. Gostaria que nos desenvolvêssemos e que o governo deixasse de gastar o dinheiro que não tem", afirmou.
Por outro lado, para Dorota Zbig, uma enfermeira de 57 anos, os últimos anos do governo do PiS "foram muito bons para mim e minha família".
Para formar um governo de coalizão, é necessário que a Coalizão Cívica, a Terceira Via e a Esquerda consigam chegar a um acordo, o que não deve ser um problema, pois seus líderes já manifestaram sua vontade de estabelecer essa aliança.
"Provavelmente, vamos esperar os resultados oficiais [...], depois vamos nos sentar para discutir e, certamente, chegaremos a um acordo", garantiu Tusk.
Durante a campanha, o PiS comprometeu-se a continuar com sua polêmica reforma do sistema judicial que, segundo o partido, tem como objetivo erradicar a corrupção, mas que a União Europeia considera um ataque à democracia.
A campanha esteve marcada por violentos ataques pessoais contra Tusk por parte da situação, que o acusa de representar os interesses de Berlim, Moscou e Bruxelas.
Kiev e seus aliados ocidentais acompanham de perto estas eleições, após a vitória recente na Eslováquia de um governo hostil à ajuda à Ucrânia.
A Polônia é um dos principais defensores da Ucrânia e acolheu em seu território um milhão de refugiados ucranianos, mas o cansaço com o conflito cresce entre os poloneses.
Recentemente, o governo comandado pelo PiS entrou em rota de colisão com Kiev, ao proibir a importação de grãos ucranianos, sob o argumento de que a medida era necessária para proteger os agricultores poloneses.
* AFP