A oposição centrista pró-Europa venceu as eleições legislativas da Polônia, segundo os resultados publicados nesta segunda-feira (16), dia seguinte ao pleito, considerado crucial para o futuro do país na União Europeia (UE) e no qual houve recorde de participação.
O resultado surpreendente põe fim a oito anos do governo do partido Lei e Justiça (PiS), de Jaroslaw Kaczynski, um partido eurocético e com forte discurso anti-imigração.
A oposição, liderada pelo ex-chefe da União Europeia (UE), Donald Tusk, havia qualificado esta eleição de a "última oportunidade" de salvar a democracia.
Com mais de 99% das urnas apuradas, o PiS liderava a votação, com 35,6% dos votos, mas insuficiente para uma maioria, enquanto a Coalizão Cívica, de Tusk, somava, juntamente com a Terceira Via e a Esquerda, 53,5% dos votos.
Esses resultados são muito similares aos da pesquisa de boca de urna publicada na noite de domingo.
A Comissão Eleitoral anunciará os resultados definitivos na terça-feira.
"A Polônia venceu, venceu a democracia, os expulsamos do poder (...) Este é o final de um período ruim, este é o final do reinado do PiS", declarou no domingo à noite Donald Tusk, presidente do KO e antigo presidente do Conselho Europeu.
Segundo as projeções do instituto de pesquisa Ipsos, a Coalizão Cívica de Donald Tusk conquistará 158 assentos, a Terceira Via (democratas-cristãos), 61, e a Esquerda, 30, ou seja, 249 cadeiras para a oposição pró-Europa de um total de 460.
- Taxa de participação recorde -
A taxa de participação na votação foi de 72,9%, um recorde que superou inclusive o nível das legislativas de 1989 (62,7%), que marcaram o fim do comunismo neste país do leste da Europa.
Os analistas destacaram a participação inesperadamente elevada dos jovens, em particular das mulheres. Quase 70% dos eleitores com idade entre 18 e 29 anos compareceram às urnas, contra 46% em 2019.
"É um salto considerável em termos de interesse pela política e de participação", destacou Justyna Kajta, socióloga da Universidade SWPS de Varsóvia.
"Sem dúvida há muitas esperanças de mudanças, em particular sobre os direitos das mulheres e o acesso ao aborto", declarou Natalia Szydlik, estudante de 20 anos de Varsóvia, à AFP.
A Polônia, que tem uma das leis mais restritivas da Europa sobre o aborto, autoriza a interrupção da gravidez apenas em caso de estupro, incesto ou se a vida ou saúde da mãe ou do bebê correm perigo.
Durante a campanha, o partido de Tusk, que foi primeiro-ministro entre 2007 e 2014 e presidente do Conselho Europeu entre 2014 e 2019, prometeu liberalizar o direito ao aborto.
Tusk também prometeu restabelecer as boas relações com a UE e liberar os fundos europeus congelados por Bruxelas devido às divergências durante os dois mandatos do governo do PiS.
"Sem dúvida vamos chegar a um acordo", afirmou Tusk em referência aos outros partidos da oposição.
Os analistas alertam que qualquer coalizão formada pela oposição pode ser barrada pelo presidente Andrzej Duda, próximo ao PiS.
Em suas primeiras declarações após a votação, Duda celebrou a alta taxa de participação, mas não disse a quem e nem quando proporia a formação de um novo governo.
Os resultados da boca de urna não concedem aos potenciais aliados a maioria de três quintos necessária para anular os vetos presidenciais.
* AFP