A pulseira da festa rave Universo Paralello, alvo do ataque do grupo terrorista Hamas no último dia 7, em Israel, segue no pulso da gaúcha Gabriela Barbosa, 33 anos. A jovem se divertia ao lado de amigos e do namorado, quando presenciou a invasão dos terroristas no evento que ocorria próximo da fronteira com a Faixa de Gaza.
Gabriela diz que olhar para a pulseira faz ela pensar sobre as pessoas, em quem está vivendo o drama e medo provocados pela guerra.
— Eu não sinto ódio, nem revolta, eu apenas sinto uma tristeza imensa por quem ainda está passando por isso — disse em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade desta segunda-feira (16).
Confira a entrevista na íntegra
Ataque do Hamas e fuga de carro
A festa brasileira, que promove os valores de "amor, paz e união entre povos", segundo Gabriela, aconteceu em um parque aberto que havia sido fechado para o evento. De acordo com relato da gaúcha, tudo ocorria normalmente até que, ao amanhecer, os seguranças da festa começaram a correr, alertando a todos sobre a ameaça. Quando Gabriela olhou para o céu, viu bombas vindas da Faixa de Gaza, território controlado pelo Hamas.
Com o início dos bombardeios, a música foi interrompida e um anúncio pelo microfone orientou a todos se deitarem no chão:
— A gente foi para dentro das barracas, deitamos no chão protegendo a cabeça. Dez minutos depois falaram para a gente evacuar o local o mais rápido possível. Essa hora já existia uma sensação de desespero de várias pessoas. Eu fiquei extremamente apavorada, nunca tinha vivido nada disso — conta a sobrevivente.
Gabriela e o namorado saíram em um carro em direção à região do Mar Morto. No caminho, se depararam com um carro alvejado e uma pessoa desacordada no interior do veículo.
— Nessa hora meu namorado entendeu o que estava acontecendo, mas não me falou nada para não me deixar assustada. A gente estava passando por um campo aberto dos nossos dois lados. Ele chegou a 200 km/h por hora, dirigia sem parar. Realmente todas as decisões que ele tomou foram muito precisas e nos salvaram —conta a gaúcha.
Os amigos de Gabriela estavam logo atrás em outros carros. Eles mantinham contato por telefone. A última ligação que ela recebeu deles segue gravada em sua memória, pois os amigos sobreviveram por pouco.
— Eles ligaram para falarem "Gabi, a gente te ama, vai ficar tudo bem, fica tranquila" — relembra a sobrevivente.
Gabriela relata que um dos amigos tem um buraco de bala do tamanho da palma de uma mão de um adulto em um braço. O outro amigo, conta, quebrou um braço com o tiro.
— Eles ficaram escondidos atrás de um tanque de guerra a manhã inteira — disse Gabriela sobre os amigos que agora estão hospitalizados.
Outros dois amigos percorreram trinta quilômetros a pé durante o dia sob o sol para fugir.
Escondidos em hotel e volta para o Brasil
Gabriela e o namorado refugiaram-se em um hotel na região do Mar Morto por dois dias, devido à falta de segurança na região. Ela retornou para o Brasil no segundo avião de repatriação da Força Aérea Brasileira (FAB).
— A embaixada de lá está fazendo um trabalho incrível. Eles nos acolhem — diz gaúcha.
260 corpos
O serviço de resgate de Israel, Zaka, informou que foram removidos 260 corpos na rave Universo Paralello. Três brasileiros que estavam no festival morreram: o gaúcho Ranani Glazer, 23 anos, Bruna Valeanu, 24 anos, e Karla Stelzer Mendes, 42 anos, ambas naturais do Rio de Janeiro.