O dramaturgo norueguês Jon Fosse venceu o Prêmio Nobel de Literatura 2023, anunciou nesta quinta-feira (5) a Academia Sueca, que destacou as obras "inovadoras" do autor que já foram encenadas nos palcos de todo o mundo.
Fosse, 64 anos, foi premiado "por suas obras de teatro e prosa inovadoras que dão voz ao indizível", destacou a Academia com sede em Estocolmo.
"Estou emocionado e agradecido. Vejo como um prêmio à literatura que, acima de tudo, pretende ser literatura, sem outras considerações", afirmou Fosse em um comunicado divulgado pouco após o anúncio.
"Fiquei surpreso quando ligaram, mas nem tanto", declarou ao canal público norueguês NRK.
Nascido em 29 de setembro de 1959 na cidade de Haugesund, Fosse é um escritor multifacetado e pouco acessível para o grande público. O norueguês, no entanto, é um dos autores vivos cujas peças de teatro são mais encenadas na Europa.
Comparada com frequência a Samuel Beckett, a obra de Fosse é minimalista, baseada em uma linguagem simples que transmite sua mensagem através do ritmo, da melodia e do silêncio.
Fosse ganhou fama como dramaturgo na Europa com 'Nokon kjem til å komme' ("Alguém vai chegar").
Também é conhecido por "Naustet" (1989), muito elogiado pela crítica, e "Melancolía" I e II (1995-96), outro de seus grandes trabalhos.
O nome do norueguês era citado há vários anos entre os potenciais vencedores do Nobel.
Quando foi informado sobre o prêmio, "ele estava dirigindo pelo campo, em direção ao fiorde ao norte de Bergen, na Noruega", disse Mats Malm, secretário permanente da Academia Sueca, após o anúncio.
"Nem sempre acreditam em mim quando ligo para as pessoas desta maneira, mas ele estava preparado para acreditar. Tivemos a oportunidade de falar sobre questões práticas e a semana do Nobel em dezembro", acrescentou.
- Grande variedade de gêneros -
"Sua imensa obra escrita em norueguês nynorsk (uma das formas linguísticas escritas da Noruega) e que abrange uma grande variedade de gêneros consiste em uma riqueza de peças, romances, poemas, ensaios, livros infantis e traduções", afirmou o júri.
"Apesar de ser um dos dramaturgos mais representados no mundo, ele também é cada vez mais reconhecido por sua prosa".
Suas obras foram traduzidas para quase 50 idiomas.
A editora norueguesa Samlaget informou que suas obras já foram encenadas mais de 1.000 vezes ao redor do mundo.
"As pessoas não leem meus livros pelas tramas", disse o escritor ao Financial Times em 2018. "Não escrevo sobre personagens no sentido tradicional da palavra. Escrevo sobre a humanidade", declarou Fosse ao jornal francês Le Monde em 2003.
O Nobel concede uma medalha e um prêmio de 11 milhões de coroas suecas (um milhão de dólares, cinco milhões de reais).
Em 2022, a vencedora do Nobel de Literatura foi a francesa Annie Ernaux, ícone feminista, conhecida por seus livros baseados em experiências pessoais, de classe e de gênero.
A Academia foi criticada por muito tempo pelo excesso de autores ocidentais brancos entre os vencedores.
Desde o movimento #MeToo em 2018, a Academia adotou reformas importantes e prometeu um prêmio de Literatura mais global e igualitário em termos de gênero.
Desde então, três mulheres foram premiadas - Annie Ernaux, a poeta americana Louise Gluck e a polonesa Olga Tokarczuk -, assim como três homens - o austríaco Peter Handke, o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah e Fosse.
Jon Fosse receberá o Nobel das mãos do rei Carl XVI Gustaf em uma cerimônia oficial em Estocolmo, no dia 10 de dezembro, data de aniversário da morte do cientista Alfred Nobel (1833-1896).
* AFP