Os separatistas armênios de Nagorno-Karabakh afirmaram, nesta sexta-feira (22), que estão negociando a retirada de suas tropas do enclave, depois que o Azerbaijão reivindicou o controle da região após uma ofensiva militar relâmpago.
"Negociações estão em curso com a parte azerbaijana, com a mediação dos soldados russos de manutenção da paz, para organizar o processo de retirada das tropas e garantir o retorno para casa dos cidadãos deslocados pela agressão militar", diz um comunicado divulgado pelas autoridades do enclave separatista.
As partes também estão discutindo "o procedimento de entrada e saída dos cidadãos" de Nagorno-Karabakh, que tem ligação com a Armênia por uma única rodovia, o corredor de Lachin, acrescenta a nota.
O governo do Azerbaijão e os separatistas armênios realizaram na quinta-feira a primeira rodada de negociações para a "reintegração" do enclave, que terminou com o anúncio de que outra reunião acontecerá em breve.
Os separatistas se comprometeram a entregar as armas como parte de um acordo de cessar-fogo que acabou com a ofensiva de um dia do Azerbaijão na região de maioria armênia.
Moscou anunciou, nesta sexta, que as tropas separatistas armênias já tinham entregue seis blindados e mais de 800 armas leves com munições.
O ministério da Defesa russo também informou, por meio de nota, ter detectado duas violações do cessar-fogo acordado na quarta-feira, um número inferior ao da véspera.
Segundo os separatistas armênios, a operação militar do Azerbaijão deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos.
Nagorno-Karabakh já foi sacudida por duas guerras entre as antigas repúblicas soviéticas do Cáucaso, Azerbaijão e Armênia: uma, de 1988 a 1994, com 30.000 mortos; outra, no outono de 2020, com 6.500 mortos.
- Capital sitiada -
Segundo Armine Hayrapetyan, porta-voz das autoridades de Nagorno-Karabakh, as tropas do Azerbaijão cercaram Stepanakert, capital da região separatista, e a população está "escondida nos porões".
"As pessoas temem que os soldados azerbaijanos entrem na cidade a qualquer momento e comecem a matar", acrescentou a porta-voz.
Segundo um correspondente da AFP, Stepanakert está sem eletricidade e combustível. Seus habitantes também sofrem com a falta de alimentos e remédios.
Segundo os separatistas armênios, a operação militar do Azerbaijão deixou pelo menos 200 mortos e 400 feridos.
- Longa espera -
No corredor de Lachin, várias pessoas esperavam nesta sexta-feira, perto de um posto de controle, o retorno de familiares bloqueados no enclave.
"Estou esperando há três dias e três noites. Estou dormindo no meu carro", contou à AFP Garik Zakarian, de 28 anos, que aguarda o retorno da sogra e do cunhado.
Criticado por não ter enviado ajuda a Nagorno-Karabakh, o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, admitiu, no Conselho de Ministros, que "a situação" continua "tensa".
Mas "há esperança de uma dinâmica positiva", acrescentou o chefe do governo armênio, segundo o qual o cessar-fogo que entrou em vigor na quarta-feira entre os separatistas armênios e o Azerbaijão está sendo "globalmente" respeitado.
- Protestos -
Nesta sexta, voltaram a ocorrer manifestações contra Pashinyan nas ruas da capital armênia, Yerevan, que terminaram com 98 novas detenções.
"As pessoas devem sair às ruas, Karabakh precisa de nós!", disse Lida Mkrtchyan, de 43 anos, natural desta região.
"Estamos vivendo um pesadelo, do qual não conseguimos acordar. Por que não abrem um corredor para que as pessoas possam sair?", questionou.
Ontem, Pashinyan pediu aos armênios que tomem "o caminho" da paz, mesmo que não seja "fácil".
O primeiro-ministro acusou a Rússia, que tem um contingente destacado em Nagorno-Karabakh desde a última guerra, em 2020, de ter falhado em sua missão de manutenção da paz.
Segundo o Azerbaijão, seis soldados russos desta unidade morreram durante a ofensiva. O presidente Ilham Aliyev pediu desculpas a seu homólogo russo, Vladimir Putin, por estas mortes.
A vitória do Azerbaijão alimenta os temores de saídas maciças dos 12 mil habitantes de Nagorno-Karabakh, embora a Armênia tenha garantido que não prevê qualquer evacuação em massa. Disse, no entanto, estar pronta para receber "40 mil famílias" de refugiados.
De acordo com a agência estatal de notícias do Azerbaijão, a Azertag, Baku enviou 40 toneladas de ajuda humanitária para a região nesta sexta-feira. Mais de 10 mil pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos, já foram retiradas, disse um fonte ligada aos separatistas.
* AFP