A República Dominicana rejeitou, nesta segunda-feira (18), as declarações do especialista designado pela ONU para os direitos humanos no Haiti, que expressou sua "extrema preocupação" com o fechamento da fronteira entre os dois países e pediu às autoridades dominicanas que reconsiderassem sua decisão.
O especialista William O'Neill alertou para as "graves repercussões" para ambos os países devido à decisão do presidente dominicano, Luis Abinader, de fechar a fronteira com o vizinho em 14 de setembro, até que as autoridades haitianas desistam da construção de um canal para desviar água do rio Masacre, na fronteira entre os países. Ele instou as partes a negociar.
"Rejeitamos categoricamente as declarações parciais e infelizes do Sr. O'Neill", respondeu o governo de Abinader em um comunicado do Ministério das Relações Exteriores. "Reiteramos que qualquer diálogo com o Haiti está condicionado à paralisação efetiva da construção unilateral e ilegal do canal", acrescentou.
"O governo dominicano expressa sua profunda preocupação com a falta de resposta das Nações Unidas à grave crise humanitária, de segurança e política que afeta o Haiti há anos", afirma o documento.
A insegurança e a violência causadas por gangues armadas no Haiti significam que muitos produtos essenciais, como alimentos, equipamentos médicos e medicamentos, são importados do país vizinho.
"Diretores de clínicas médicas no Haiti me disseram que não poderão atender seus pacientes se o acesso à República Dominicana for interrompido. Vidas estão em jogo", alertou O'Neill.
O Haiti recebe pelo menos 25% de seus alimentos da República Dominicana, e muitas escolas na região fronteiriça compram alimentos no país vizinho para seus alunos, lembrou o especialista. O acesso à água também será dificultado, acrescentou.
"Insto a República Dominicana a permitir a entrega de todos os tipos de ajuda humanitária e bens essenciais ao Haiti", acrescentou O'Neill em comunicado emitido em Genebra.
"A violência incessante e as violações e abusos dos direitos humanos no Haiti não permitem atualmente o retorno seguro, digno e sustentável dos haitianos ao país", lembrou.
O Haiti, o país mais pobre das Américas, está mergulhado em uma crise econômica e política há anos, agravada pela violência das gangues, que impõem a lei do mais forte em grande parte do território.
"O governo dominicano toma nota do pedido de permitir a passagem de ajuda humanitária para o Haiti, mas reitera que a solução imediata e definitiva deste problema está nas mãos do Haiti", enfatizou o comunicado do Ministério das Relações Exteriores.
* AFP