A Polônia informou, nesta quinta-feira (21), que foram "mal-interpretadas" as declarações do primeiro-ministro polonês sobre uma possível suspensão do envio de armas à Ucrânia, em meio a uma disputa recente pelas exportações de cereais.
As declarações do primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki, "foram interpretadas no pior sentido possível", disse o presidente polonês, Andrzej Duda, nesta quinta-feira, à emissora TVN24.
"Na minha opinião, o primeiro-ministro quis dizer que não vamos enviar à Ucrânia o novo armamento que estamos comprando para modernizar o exército polonês", acrescentou.
Varsóvia tem sido uma das apoiadoras mais firmes de Kiev desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, e é um dos seus principais fornecedores de armas. Ontem, no entanto,o governo polonês disse que pararia de fornecer armas a Kiev e se concentraria em equipar seu próprio Exército.
Mais cedo nesta quinta, o porta-voz do governo polonês, Piotr Muller, declarou que "a Polônia cumprirá apenas as entregas de munição e armamento previamente acordadas", conforme declarações publicadas pela agência de notícias PAP.
Além de seus próprios envios, a Polônia também é um país de trânsito fundamental para o armamento que os Estados Unidos e outros aliados ocidentais mandam para a Ucrânia. Da mesma forma, o país acolhe quase um milhão de refugiados ucranianos, que se beneficiaram de diferentes tipos de ajuda do governo.
As tensões entre Varsóvia e Kiev foram deflagradas pela proibição da Polônia de importar grãos ucranianos para proteger seus próprios agricultores.
O Ministério ucraniano da Agricultura anunciou, nesta quinta, negociações com a Polônia "nos próximos dias" para resolver a disputa sobre as exportações de cereais.
A invasão russa da Ucrânia provocou o bloqueio das rotas comerciais pelo mar Negro e transformou a União Europeia na principal via de trânsito e destino das exportações de cereais ucranianos.
Em maio, a União Europeia concordou em restringir as exportações para Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Eslováquia para proteger os agricultores daqueles países.
No entanto, na sexta-feira passada, a Comissão Europeia, braço executivo do bloco, anunciou a suspensão destas restrições, alegando que "as distorções nos cinco países-membros vizinhos da Ucrânia desapareceram".
Polônia, Hungria e Eslováquia desafiaram a decisão e impuseram embargos unilaterais, aos quais Kiev respondeu, anunciando um recurso futuro perante a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Um porta-voz do Ministério da Agricultura eslovaco anunciou, nesta quinta-feira, que seu país acordou com a Ucrânia um mecanismo baseado em licenças, que no futuro substituirá o embargo aos cereais.
O tema das exportações de grãos é delicada na Polônia, faltando um mês para as eleições legislativas. O governo populista de direita do partido Lei e Justiça tem forte apoio das zonas agrícolas.
* AFP