Milhares de refugiados de Nagorno-Karabakh chegaram nesta segunda-feira (25) à Armênia após a operação relâmpago das tropas do Azerbaijão, cujo presidente Ilham Aliyev se reúne hoje com o homólogo turco Recep Tayyip Erdogan, um líder crucial nesta região do Cáucaso.
O avanço das tropas do Azerbaijão sobre esta região separatista, habitada em sua maioria por armênios, gerou uma crise política em Yerevan, onde o primeiro-ministro Nikol Pashinyan enfrenta muitos protestos por sua decisão de não mobilizar o exército.
Alguns dias após os combates, a Armênia contabilizou nesta segunda-feira a chegada de 4.850 refugiados a seu território.
Na localidade armênia de Goris, próxima da fronteira com o Azerbaijão, muitos deslocados se aglomeravam em um abrigo instalado em um teatro.
"Foram dias terríveis", relatou Anabel Ghulasian, uma mulher de 41 anos que morava em Rev, localidade que os azeris chamam de Shalva.
Ela chegou com a família em uma caminhonete, com os poucos pertences em algumas malas.
O Azerbaijão lançou uma operação relâmpago em 19 de setembro para controlar o enclave de Nagorno-Karabakh, habitado em sua maioria por armênios, mas reconhecido internacionalmente como seu território. O avanço rápido das tropas obrigou os separatistas a entregar as armas e a pedir um cessar-fogo.
Armênia e Azerbaijão, duas ex-repúblicas soviéticas, protagonizam duas guerras nas últimas três décadas pelo controle de Nagorno-Karabakh.
Os separatistas afirmam que 200 pessoas morreram nos combates da semana passada, incluindo seis soldados russos que integravam o contingente de paz mobilizado após o conflito em 2020.
O Azerbaijão afirmou que dois soldados morreram na explosão de uma mina no domingo.
A imprensa estatal do Azerbaijão informou que representantes de Baku participaram em uma segunda rodada de negociações de paz com representantes da comunidade armênia em Nagorno-Karabakh, com o objetivo de "reintegrá-los" ao país.
Porém, cada vez mais moradores da região parecem que desejam mudar para a Armênia. A rodovia que segue de Nagorno-Karabkh para este país registrou engarrafamentos nesta segunda-feira.
Valentina Asrian, 54 anos, contou que fugiu do vilarejo de Vank com os netos.
"Quem imaginaria que os 'turcos' entrariam nesta cidade histórica cidade armênia?", questionou, utilizando uma expressão depreciativa para fazer referência às tropas do Azerbaijão.
Ela está alojada temporariamente em um hotel de Goris, mas não tem nenhum parente na região. "Não tenho para onde ir", disse.
No abrigo criado pelo governo armênio em Kornidzor, na fronteira entre Armênia e Azerbaijão, um homem, que chegou no domingo ao local com o primeiro grupo de refugiados, disse que se arrepende de ter deixado para trás o gado e o túmulo da filha de três anos.
"Tivemos 15 minutos para fazer as malas (...) não dissemos adeus", conta.
- Protestos na Armênia -
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, pretende consolidar sua vitória em uma reunião nesta segunda-feira com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, um importante aliado de Baku, no enclave azeri de Nakhichevan.
Após o desembarque de Erdogan, Aliyev, sorridente, deu dois beijos no chefe de Estado turco.
Os dois políticos pretendem colocar a pedra fundamental em um projeto de gasoduto e inaugurar a reforma de um centro militar azeri, em mais uma demonstração da presença turca na região, que contrasta com a aparente retirada da Rússia, envolvida no conflito na Ucrânia.
O Kremlin defendeu nesta segunda-feira a atuação de seu contingente de paz e rebateu de maneira categórica as críticas da Armênia de que não intercedeu durante a ofensiva do Azerbaijão.
O primeiro-ministro armênio tentou responsabilizar a Rússia, uma antiga aliada, e afirmou que as alianças do país foram "ineficazes", o que sugere que o país vai procurar novos parceiros.
Pashinyan enfrenta protestos em Yerevan desde o cessar-fogo da semana passada.
Nas localidades do Azerbaijão próximas de Nagorno-Karabakh, como Terter e Beylagan, os moradores celebram a vitória de seu governo sobre os rebeldes e as ruas estão enfeitadas com bandeira e retratos dos "mártires" mortos nos combates nas últimas décadas.
Alguns deslocados do conflito ainda esperam retornar a Karabakh.
"Claro que queremos voltar a Karabakh, estamos cansados da guerra e do medo", afirmou Nazakat Valiyeva, 49 anos, que trabalhava como operária e perdeu o marido no conflito de 2020.
* AFP