Há trinta anos - metade de sua vida - Azad Abbasov sente falta da beleza das montanhas de Nagorno-Karabakh. A vitória relâmpago do Azerbaijão sobre os separatistas armênios neste disputado enclave do Cáucaso reacendeu a esperança deste deslocado de voltar ao seu local de origem.
"É a minha obsessão", afirma este professor de 67 anos, vestido com paletó e gravata, na cidade de Terter, no Azerbaijão.
Abbasov mostra em seu celular uma vista aérea da localização de sua antiga casa. "Eu olho para ela com frequência", conta, emocionado.
Ele é azerbaijano, ou azeri, um povo xiita de língua turca, e mora em Terter, localizado a mais de uma hora de carro de seu local de origem, Umudlu, em Nagorno-Karabakh.
As lembranças daquele 28 de fevereiro de 1992, quando teve que abandonar o enclave, ainda estão vivas: a morte de seu irmão, o helicóptero de resgate derrubado e os quilômetros percorridos a pé para evacuar a área.
Após a saída do Exército soviético, a Armênia e o Azerbaijão entraram em uma guerra que deixou cerca de 30 mil mortos. Naquela época, 700 mil azerbaijanos fugiram da Armênia e de Nagorno-Karabakh, e 230 mil armênios fugiram do Azerbaijão.
Incorporado por Stálin à república soviética do Azerbaijão em 1921, com autonomia desde 1923, este território é alvo de disputas há décadas. Várias gerações pagaram o preço.
No domingo (24), várias centenas dos 120 mil habitantes de Nagorno-Karabakh, em sua maioria armênios, partiram para o exílio na Armênia.
Os separatistas anunciaram que iam entregar as armas e que os habitantes que perderam as suas casas nos últimos combates poderiam partir para esse país.
"Assim como tivemos que sair de casa às pressas em 1992, estamos prontos para voltar rápido" e abandonar Teter, os seus velhos carros Lada da era soviética e a memória onipresente da guerra, diz Azad Abbasov.
- "Animosidade" -
Da mesma forma, os deslocados entrevistados pela AFP contam que sonham em voltar a Nagorno-Karabakh. "Estamos cansados da guerra e do medo", diz Valiyeva Nazakat, de 49 anos, que perdeu o marido durante o conflito de 44 dias no outono boreal de 2020 (primavera no Brasil).
Esta ex-trabalhadora de uma fábrica de tapetes também perdeu as belas montanhas, nascentes e vinhedos da cidade de sua infância, Boyahmadli. A área foi reconquistada pelas forças do Azerbaijão, mas o acesso é controlado com rigidez. As pequenas cidades novas que surgiram ainda não são habitadas.
"Precisamos de condições pacíficas para voltar", alerta Azad Abbasov. "É necessário que a minha cidade seja libertada da forma correta, é preciso desminá-la, construir estradas, reconstruir as casas. Há muitas coisas a fazer", acrescenta.
Também será necessário superar os antagonismos que cresceram ao longo de gerações e batalhas.
"Devemos extrair as sementes da animosidade entre nós", afirma Abbasov, que menciona a questão do realojamento.
Para ele, a possibilidade de morar em uma casa que não é sua está fora de questão. "Que os armênios voltem ao seu local", repete.
Por sua vez, os armênios deslocados que fugiram do enclave no domingo recusam-se categoricamente a voltar para casa se os "turcos" - como muitos deles chamam os azerbaijanos - também voltarem.
"Tudo leva tempo, é um processo longo", opina Javid Ismayilov, de trinta anos. Mas acredita que "podemos viver uns com os outros".
* AFP