O governo do Azerbaijão e os separatistas armênios de Nagorno-Karabakh estão dispostos a seguir com as conversações de paz iniciadas nesta quinta-feira (21) sobre a reintegração deste território separatista de onde o Exército de Baku saiu vitorioso após uma operação militar relâmpago.
Por outro lado, a Rússia, que mantém soldados de paz na região do Cáucaso, afirmou que, desde a conclusão do acordo de cessar-fogo na quarta-feira, ocorreram "cinco violações do cessar-fogo" em dois distritos, de acordo com um comunicado do Ministério da Defesa russo.
O Azerbaijão classificou as primeiras negociações com os separatistas armênios como "construtivas" e anunciou que ambas as partes se reunirão novamente "o mais breve possível".
"As partes enfatizaram, em particular, a necessidade de abordar todos os problemas existentes em um ambiente tranquilo e expressaram disposição para continuar as reuniões", afirmaram os separatistas em um comunicado.
Na quarta-feira, o Azerbaijão forçou os separatistas armênios a deporem as armas, após uma ofensiva militar relâmpago de 24 horas e, nesta quinta, as duas partes se reuniram na cidade azerbaijana de Yevlax, 295 km a oeste da capital, Baku.
Hikmet Hajiev, assessor do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, disse na véspera que o objetivo é "a reintegração pacífica dos armênios de Karabakh" e a "normalização" das relações com a Armênia.
- "40.000 famílias" -
Enquanto isso, as ruas de Stepanakert, capital separatista dos armênios de Nagorno-Karabakh, estão "cheias de deslocados, famintos e assustados", denunciou Gegham Stepanien, defensor dos direitos humanos das autoridades separatistas.
Durante uma conversa por telefone com Aliyev, o presidente russo, Vladimir Putin, pediu garantias aos "direitos e à segurança" dos 120.000 armênios de Nagorno-Karabakh.
A Armênia informou que até agora não está prevista nenhuma grande evacuação, mas disse estar pronta para receber "40.0000 famílias" de refugiados. Mais de 10.000 pessoas foram retiradas do enclave, disse na quarta-feira uma autoridade ligada aos separatistas armênios.
O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, acusou a Rússia de ter fracassados em suas "funções de manutenção da paz".
A Armênia tachou a operação do Azerbaijão de "crime contra a humanidade" e o chanceler armênio, Ararat Mirzoyan, afirmou no Conselho de Segurança da ONU que o objetivo azerbaijano é "terminar a limpeza étnica da população armênia".
Durante uma reunião emergencial do órgão, o chefe da diplomacia do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, acusou Yerevan de querer "enganar a comunidade internacional" e de "alimentar durante muito tempo" o separatismo" na região.
Nagorno-Karabakh, considerada pela Armênia uma região central em sua história, proclamou sua independência do Azerbaijão (com o apoio do governo de Yerevan) no momento da desintegração da União Soviética, em 1991.
Com a ofensiva relâmpago desta semana, Aliyev, que usou a receita do petróleo para fortalecer seu exército, consegue o controle desta região de maioria armênia, cenário de duas guerras entre os países do Cáucaso: a primeira entre 1988 e 1994 (30.000 mortos) e a segunda em 2020 (6.500 mortos).
- Cessar-fogo "totalmente" respeitado -
Enquanto as negociações começavam em Yevlax, um jornalista da AFP ouviu tiros em Stepanakert.
Apesar das "violações isoladas", o cessar-fogo que entrou em vigor nesta quarta-feira está sendo "totalmente" respeitado, disse o premiê armênio.
"Estamos em casa esperando os resultados das conversações. Todos os habitantes cidade estão sentados em suas casas ou jardins esperando", disse à AFP o empresário Arutyun Gasparian, pai de dois filhos.
Segundo o balanço mais recente dos confrontos divulgado pelos separatistas armênios, ao menos 200 pessoas morreram e 400 ficaram feridas.
O Azerbaijão confirmou nesta quinta-feira a morte de seis soldados russos das forças de manutenção da paz. Cinco foram "confundidos" com separatistas armênios, enquanto outro militar russo morreu após ser alvo de tiros de "membros não identificados de grupos armados armênios" que dispararam contra seu veículo.
As autoridades azerbaijanas lançaram sua operação após a morte de seis pessoas devido à explosão de algumas minas, pela qual o Azerbaijão culpou "sabotadores" armênios.
A rendição dos separatistas aumentou a pressão sobre o primeiro-ministro Pashinyan, criticado por não ter enviado ajuda a Nagorno-Karabakh.
O caminho para a paz "não é fácil", mas "deve ser percorrido", afirmou Pashinyan.
Milhares de manifestantes protestaram na quarta-feira à noite em frente à sede do governo, onde foram registrados incidentes com a polícia, como ocorreu na véspera.
* AFP