O líder da oposição no Zimbábue, Nelson Chamisa, contestou neste domingo (27) a reeleição do presidente Emmerson Mnangagwa, anunciada oficialmente ontem, e reivindicou sua própria vitória, após um processo eleitoral marcado por irregularidades.
Mnangagwa, 80 anos, obteve 52,6% dos votos, contra 44% para Chamisa, de acordo com o resultado anunciado ontem pela Comissão Eleitoral do Zimbábue. A oposição denunciou imediatamente que os votos foram "falsificados".
"Vencemos estas eleições. Somos os líderes. Estamos até surpresos que Mnangagwa tenha se declarado o vencedor (...) Temos os resultados reais", anunciou Chamisa, um advogado e pastor de 45 anos, em uma entrevista à imprensa.
A população foi às urnas na quarta e quinta-feira para eleger o presidente e seus deputados.
A disputa ficou entre o ZANU-PF, no poder desde a independência em 1980, e a Coalizão de Cidadãos para a Mudança (CCC) de Chamisa, o maior partido da oposição.
Mnangagwa chegou ao poder após um golpe que derrubou o ex-líder Robert Mugabe em 2017. No ano seguinte, derrotou Chamisa pela primeira vez em uma eleição que o líder da oposição descreveu como fraudulenta.
A votação desta semana precisou ser estendida para um segundo dia, uma situação sem precedentes, devido a atrasos na impressão das cédulas de voto em alguns distritos, incluindo o reduto da oposição, Harare.
Mnangagwa se pronunciou do palácio presidencial nesta manhã e afirmou que quem discordasse do resultado poderia ir à Justiça.
Observadores internacionais presentes no país durante o processo eleitoral denunciaram "problemas graves" e a violação de "muitas normas internacionais" que regem as eleições democráticas e que mancham a "transparência" do voto.
De acordo com observadores da União Europeia (UE), da África Austral (SADC) e dos países da Comunidade Britânica, alguns eleitores não foram encontrados nos cadernos eleitorais e outros foram intimidados em assembleias de voto. No entanto, a votação decorreu em um contexto "calmo e pacífico" na maior parte do tempo, ressaltaram.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou "preocupação com as detenções de observadores e a intimidação de eleitores".
Chamisa esperava se beneficiar da insatisfação com a corrupção, a inflação, o desemprego e a pobreza para vencer, mas a campanha foi marcada pela repressão, proibição de dezenas de comícios e pela prisão de opositores.
Em 2018, Mnangagwa, sucessor de Mugabe, foi eleito por uma margem estreita (50,8%), resultado que foi contestado sem sucesso por Chamisa.
* AFP