Os membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) concordaram, nesta quarta-feira (23), em Joanesburgo, com a expansão do bloco de potências emergentes, embora ainda não tenham divulgado uma lista dos possíveis novos membros.
"Concordamos na questão da expansão. Aprovamos um documento que define as diretrizes e os princípios e processos de exame para os países que desejam se tornar membros do Brics", disse o ministro das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, à rádio pública Ubuntu.
O chanceler sul-africano não especificou que países farão parte do bloco nos próximos anos, embora tenha afirmado que serão divulgados mais detalhes até o fim da cúpula, na noite de quinta-feira.
Cerca de 40 nações - incluindo Argentina, Cuba, Nigéria e Irã - solicitaram a adesão ou manifestaram o desejo de aderir ao bloco criado em 2009, que representa atualmente quase um quarto do PIB e 42% da população mundial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que "o interesse de vários países de aderir ao agrupamento é reconhecimento de sua relevância crescente".
A China, peso pesado econômico do grupo, reiterou sua posição a favor da expansão. "O Brics deve trabalhar pelo multilateralismo, e não criar pequenos blocos. Devemos integrar outros países à família", disse o presidente chinês, Xi Jinping.
Após guardar silêncio ontem, a Índia também se pronunciou a favor da abertura.
- 'Ordem mundial multipolar' -
O Brics reafirmou na cúpula a sua posição de "não alinhamento" e a sua reivindicação de um mundo multipolar, em um momento de acentuada divisão internacional devido à invasão russa da Ucrânia.
"A guerra na Ucrânia evidencia as limitações do Conselho de Segurança. O Brics deve atuar como uma força pelo entendimento e pela cooperação", disse o presidente brasileiro.
Os membros da aliança compartilham um desejo comum de afirmar o seu lugar no mundo.
Paralelamente à cúpula, Lula declarou que deseja que o Brics seja colocado em pé de igualdade com a União Europeia e os Estados Unidos.
Os Estados Unidos garantiram ontem que não veem o Bricscomo futuro "rival geopolítico" e que desejam manter suas "relações sólidas" com Brasil, Índia e África do Sul.
O presidente russo, Vladimir Putin, denunciou as "sanções ilegítimas e o congelamento ilegal de ativos russos" pelos Estados Unidos.
O chefe de Estado russo, que tem um mandado de prisão internacional por crimes de guerra na Ucrânia, falou na cúpula com uma mensagem de vídeo gravada. "Defendemos uma ordem mundial multipolar", destacou.
O ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, presente em Joanesburgo, anunciou que seu país sediará a cúpula anual do Brics em 2024.
- Sistema financeiro próprio -
A agenda da atual cúpula do Brics, que representa 18% do comércio mundial, inclui a busca por alternativas ao dólar em suas transações comerciais.
Lula defendeu ontem a integração da Argentina, país em dificuldades devido a uma dívida de 44 bilhões de dólares (217 bilhões de reais) com o FMI, e defendeu a redução das "vulnerabilidades" dos países do sul global e um "sistema financeiro" próprio.
"Precisamos de um sistema financeiro internacional que, ao invés de alimentar as desigualdades, ajude os países de baixa e média renda a implementarem mudanças estruturais", afirmou, voltando a mencionar a possibilidade de criação de uma moeda específica para transações comerciais e de investimento entre os membros do bloco.
O Brics criou o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) em 2015, com a ambição de propor uma alternativa ao Banco Mundial e ao FMI. Sediada em Xangai, a instituição investiu, até agora, 30 bilhões de dólares (148 bilhões de reais) em infraestrutura e projetos de desenvolvimento sustentável nos Estados-membros e nas economias em desenvolvimento.
* AFP