O ex-policial Fulgence Kayishema, preso esta semana na África do Sul por seu suposto envolvimento no genocídio em Ruanda em 1994, compareceu nesta sexta-feira (26) a um tribunal da Cidade do Cabo, que deve decidir sua extradição.
Até sua captura na quarta-feira, Kayishema, de 62 anos, era um dos quatro últimos procurados por seu papel no genocídio, no qual cerca de 800.000 pessoas, a maioria tutsis, foram assassinadas por extremistas hutus.
O acusado, que estava foragido há 22 anos, permaneceu impassível diante dos magistrados, com um livro de orações nas mãos.
Ao chegar ao tribunal, custodiado por agentes protegidos com coletes à prova de bala, negou sua participação nos massacres de 1994, em resposta a um jornalista que o questionou a respeito.
"Havia uma guerra civil na época e as pessoas se matavam entre si. Não tive nenhum papel" nesses fatos, afirmou.
Este ex-inspetor de polícia, nascido em 1961, deverá responder às acusações de genocídio, cumplicidade com genocídio, conspiração para cometer um genocídio e crimes contra a humanidade.
Em particular, ele é acusado de ter assassinado, junto com outros indivíduos, mais de 2.000 homens, mulheres e crianças refugiadas na igreja de Nyange, no município de Kivumu, por volta de 15 de abril de 1994.
A polícia sul-africana conseguiu capturá-lo na quarta-feira, em uma vinícola em Paarl, cerca de 60 km da Cidade do Cabo.
Kayishema foi colocado em prisão provisória em uma penitenciária de segurança máxima na Cidade do Cabo.
Segundo o Ministério da Justiça da África do Sul, que foi contactado pela AFP, ele deve ser extraditado rapidamente para ser julgado em um tribunal internacional, em Haia (Holanda) ou em Arusha, na Tanzânia.
Muitos ruandeses foram condenados pela Justiça de seu país, por tribunais internacionais ou de países ocidentais por fatos vinculados ao genocídio de 1994.
Kayishema era alvo de um mandado de prisão emitido pelo Mecanismo Internacional (MICT), que assumiu, desde 2015, a continuidade dos trabalhos do Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR), criado pela ONU depois do genocídio.
Até o momento, o TPIR condenou 62 pessoas. Alguns dos suspeitos, como Augustin Bizimana, considerado um dos principais mentores do massacre, morreram sem prestar contas à Justiça internacional.
* AFP