As inundações e deslizamentos de terra provocados pelas fortes chuvas que atingiram o leste da República Democrática do Congo deixaram quase 400 mortos, segundo um balanço divulgado neste domingo (7). O número ainda pode aumentar, à medida que mais corpos são encontrados.
"Encontramos mais de 390 corpos", disse Thomas Bakenga, administrador do território de Kalehe, onde ficam as as localidades afetadas, às margens do lago Kivu na fronteira com Ruanda.
Intensas chuvas atingem, desde quinta-feira (4), a região de Kalehe, na província de Kivu do Sul, o que provocou a cheia dos rios e deslizamentos de terra que destruíram as aldeias Bushushu e Nyamukubi.
O balanço de mortos aumenta rápido. Na véspera, Bakenga anunciou que havia pelo menos 203 mortos. "Desde quinta-feira, encontramos corpos a cada minuto e os enterramos", acrescentou.
Em Nyamukubi, a encosta de um morro também desabou. Na quinta-feira, o local havia recebido uma feira, explicou Bakenga.
"Parece o fim do mundo. Procuro os meus pais e os meus filhos", lamentou-se chorando Gentille Ndagijima, de 27 anos.
A jovem perdeu os dois filhos, suas duas irmãs e seus pais. Seu marido ficou ferido e está hospitalizado.
"Não tenho família e não tenho casa. Agora tenho que buscar onde dormir", relatou.
Pelo menos 132 corpos foram encontrados nesse povoado, detalhou o administrador regional. Outros 142 em Bushushu e 120 flutuando no lago Kivu, próximo à ilha de Idjwi.
A República Democrática do Congo é um dos maiores países da África e um dos mais pobres do mundo, assolado pela corrupção e pela violência na parte oriental.
- Luto Nacional -
Os desabrigados precisam de tudo. Bakenga disse que "o governo provincial enviou um barco repleto de alimentos, lonas e medicamentos".
O panorama, porém, segue sendo desolador. Há povoados inteiros submersos, casas destruídas e campos devastados.
O governo central decretou um dia de luto nacional na segunda-feira (8).
Roger Bahavu, outro dos afetados em Nyamukubi, contou à AFP que perdeu toda sua família.
"Sou motorista. Havia voltado do trabalho, estacionei minha moto em casa e saí para ver os meus amigos. Quando voltei, minha casa, minha moto, e os membros da minha família haviam desaparecido" relatou.
Isaac Habamungu, membro da Cruz Vermelha local, disse que há muitos corpos. "Estamos atolados", advertiu.
"Acreditamos que muitos corpos terminaram no lago (...) Nos perguntamos como vamos cuidar disso", acrescentou, explicando que não tem sacos para cadáveres nem financiamento para suas atividades.
A catástrofe aconteceu dois dias depois das inundações que deixaram pelo menos 131 mortos e destruíram milhares de casas na vizinha Ruanda.
No sábado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse em visita ao Burundi que as tragédias são uma nova "mostra da aceleração da mudança climática e suas consequências dramáticas para países que não são responsáveis pelo aquecimento" do planeta.
Os especialistas afirmam que os fenômenos meteorológicos extremos ocorrem com maior frequência e intensidade devido à mudança climática.
* AFP