A capital do Sudão registrou novamente nesta sexta-feira (12) explosões e ataques aéreos, poucas horas depois da assinatura na Arábia Saudita pelas duas partes beligerantes de um acordo para a abertura de corredores humanitários.
Há quatro semanas, o país africano é cenário de um conflito aberto entre o comandante do exército oficial, general Abdel Fattah al Burhan, e as paramilitares Forças de Apoio Rápido (FAR), do general Mohamed Hamdan Daglo.
Os combates provocaram mais de 750 mortes e deixaram 5.000 feridos. O conflito obrigou mais de 200.000 pessoas a fugir do país, informou a ONU nesta sexta-feira.
Os representantes dos dois generais que disputam o poder assinaram na quinta-feira à noite, na cidade saudita de Jidá, uma "declaração de compromisso" de quatro páginas que não menciona uma trégua.
Após seis dias de negociações com mediação do Arábia Saudita e Estados Unidos, os emissários dos dois generais assinaram a "declaração de Jidá para a proteção dos civis no Sudão", que deve permitir a saída dos moradores das zonas de combate.
As negociações devem prosseguir para obter uma nova trégua temporária, que permita o envio de ajuda humanitária. A paralisação dos combates pode ter duração de 10 dias, segundo o Departamento de Estado americano.
Um morador do sul de Cartum, cidade de cinco milhões de habitantes, afirmou que observou caças e ouviu explosões nesta sexta-feira. No norte da capital, uma testemunha citou ataques aéreos e tiros de baterias antiaéreas.
Em Darfur, grande região do oeste do Sudão, na fronteira com o Chade, várias testemunhas citaram tiros na cidade de El Geneina.
A situação é particularmente delicada em Darfur, devastada no início do século por uma violenta guerra civil.
De acordo com a ONU, 450 pessoas morreram em El Geneina nos combates recentes entre o exército e os paramilitares, civis armados e combatentes tribais ou de grupos armados locais.
- OMS pede garantias de segurança -
Desde o início dos combates em 15 de abril, os dois lados trocam acusações sobre as mortes de civis.
O exército afirma que as FAR utilizam a população de Cartum como "escudo humano", enquanto os paramilitares denunciam ataques aéreos do exército na capital.
As duas partes concordaram em adotar "passagens seguras para que os civis possam deixar as zonas de combate e seguir para onde desejarem".
Também se comprometeram a "permitir e facilitar rapidamente a passagem de ajuda humanitária", assim como "a entrada dos trabalhadores humanitários no país".
Pelo menos 18 trabalhadores humanitários morreram ao tentar ajudar a população civil.
Quatro milhões de sudaneses, em particular em Cartum, estão entrincheirados em suas casas, sobrevivendo a um calor sufocante sem água corrente ou energia elétrica.
O país enfrenta a escassez de alimentos, dinheiro e combustíveis. A ONU alertou para o risco da fome, um flagelo no Sudão, que é um dos países mais pobres do planeta.
"A Organização Mundial da Saúde (OMS) está disposta a enviar 110 toneladas de material médico de emergência a partir de Porto Sudão", cidade do Mar Vermelho no leste do país, para outros destinos, mas para isto precisará de garantias de segurança, afirmou um porta-voz da ONU algumas horas antes do anúncio do acordo sobre as regras humanitárias.
* AFP