Em uma nova ofensiva de sua guerra contra o crime organizado, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, anunciou, nesta quarta-feira (17), que impôs um cerco militar em torno da cidade de Nueva Concepción (norte), onde um policial foi assassinado na terça.
"Desde a madrugada, estabelecemos um cerco de segurança ao redor do município de Nueva Concepción, [no departamento de] Chalatenango, com mais de 5.000 agentes" das Forças Armadas e 500 da polícia para capturar os responsáveis pelo crime, assegurou o mandatário no Twitter.
Nessa cidade de aproximadamente 30.000 habitantes, localizada cerca de 80 km ao norte da capital San Salvador, um policial foi assassinado ontem por supostos membros de gangues, o que levou Bukele a prometer que vai "acabar" com esses grupos.
Há 14 meses, o presidente salvadorenho iniciou uma "guerra" contra as gangues, com detenções maciças de suspeitos e interrompendo o controle territorial que eles exerciam há anos, devolvendo a sensação de segurança à população.
A operação militar desta quarta começou no vilarejo rural de La Cruz, e depois foi ampliada para outras áreas rurais de Nueva Concepción, onde os agentes revistaram casas e revisaram os documentos dos pedestres e de quem se deslocava em veículos e motos, segundo a imprensa local.
Vestidos com uniforme de combate e armados com fuzis de assalto, os militares percorriam as ruas em veículos 4x4.
"Saibam que não vamos parar até capturar cada um dos responsáveis por este assassinato vil", declarou o ministro da Justiça e Segurança, Gustavo Villatoro, que comanda a operação junto com o ministro da Defesa, René Francis Merino.
Os militares e policiais realizam "buscas pelos responsáveis pelo homicídio e por toda a estrutura criminosa e seus colaboradores que ainda se escondem nesse local", disse Bukele.
Os criminosos "pagarão caro pelo assassinato do nosso herói", o agente Maximino Antonio Vásquez, acrescentou.
José Chacón, um morador de Nueva Concepción, se declarou favorável à presença militar, ao afirmar aos jornalistas que "quem não deve, não teme".
A cruzada contra as gangues tem o apoio de nove em cada dez salvadorenhos, segundo pesquisas, mas organizações de direitos humanos e a Igreja Católica criticaram os métodos de Bukele.
O crime cometido contra o policial "é condenável", mas os cercos militares "trazem ansiedade e medo" à população inocente daquela região de Chalatenango que sofreu a brutalidade da guerra civil (1980-1992), disse à AFP o coordenador da Comissão de Direitos Humanos, Miguel Montenegro.
- Estado de exceção -
A Polícia Nacional Civil (PNC) informou que Vásquez morreu ao ser "atacado" por criminosos, "enquanto patrulhava com outros policiais" em Nueva Concepción.
Ele é o quarto policial salvadorenho assassinado desde que Bukele lançou sua "guerra" contra as gangues em março de 2022, e o primeiro este ano, enquanto o país aplica um estado de exceção que autoriza prisões sem ordem judicial.
Horas depois do crime, a Assembleia Legislativa ampliou o regime de exceção vigente, que permite prisões sem mandado judicial, principal ferramenta de Bukele em sua "guerra" contra as gangues.
Com esta prorrogação, o estado de exceção estará em vigor até 15 de junho.
O regime de exceção foi originalmente declarado pelo Parlamento, a pedido de Bukele, em resposta a uma escalada de assassinatos que custou a vida de 87 pessoas, de 25 a 27 de março de 2022.
Desde então, 68.720 suspeitos de pertencerem ao crime organizado foram presos, mas cerca de 5.000 acabaram sendo libertados por não estarem ligados às gangues, segundo o governo.
Os cercos militares ao redor dos municípios têm sido uma arma recorrente de Bukele na "guerra" contra o crime organizado.
O primeiro foi em 3 de dezembro de 2022, no município de Soyapango, na região metropolitana da capital, e depois se espalharam para outras áreas. Em alguns casos, os militares permaneceram no local por semanas, detendo milhares de suspeitos.
- 'Vamos acabar' com as gangues -
Para manter presos os membros das gangues, Bukele inaugurou uma "megaprisão" no início de fevereiro, com capacidade para 40 mil detentos, considerada a maior da América Latina.
As gangues começaram a assumir o controle territorial do país após o fim da guerra civil. O governo atribui a elas cerca de 120.000 mortes, muito mais do que o balanço de vítimas fatais do conflito armado (75.000).
Ao informar sobre o assassinato do policial na terça-feira, Bukele prometeu "acabar" com as gangues, que, nos territórios que controlavam, submetiam os salvadorenhos a seus caprichos e extorquiam comerciantes e empresários do ramo dos transportes.
"Que todas as ONGs de 'direitos humanos' saibam que vamos acabar com estes malditos assassinos e seus colaboradores, vamos colocá-los na prisão, de onde jamais sairão", enfatizou o presidente.
Após o assassinato do policial, um suspeito foi detido no local.
* AFP