Xi Jinping e Vladimir Putin destacaram nesta segunda-feira (20) a força de sua aliança bilateral, momentos antes do desembarque do presidente da China em Moscou para uma reunião com o homólogo da Rússia, isolado no cenário internacional após a invasão da Ucrânia.
A visita de Estado de três dias à Rússia, país com o qual a China tem importantes vínculos diplomáticos e econômicos, é a primeira do governante chinês em quase quatro anos.
"Espero trabalhar com o presidente Putin para adotar, em conjunto, uma nova visão nas relações", escreveu Xi em um artigo publicado no jornal Rossiyskaya Gazeta e também divulgado pela agência estatal chinesa Xinhua.
"É uma viagem de amizade, cooperação e paz", acrescentou o presidente chinês.
Após a participação na recente reconciliação diplomática entre Arábia Saudita e Irã, a China deseja atuar na mediação do conflito entre Rússia e Ucrânia, com um apelo de diálogo entre os dois países.
Em um artigo publicado nesta segunda-feira por um jornal chinês, Putin elogia "a vontade da China de ter um papel construtivo na resolução" do conflito e afirma que "as relações Rússia-China alcançaram o ponto mais elevado".
Antes da viagem de Xi a Moscou, as autoridades ucranianas reiteraram o pedido para que a Rússia retire as tropas de seu território.
"Fórmula para o sucesso da aplicação do 'Plano de Paz' chinês. A primeira e principal cláusula é a rendição ou a retirada das forças de ocupação russas do território ucraniano", afirmou no Twitter o secretário do Conselho de Segurança ucraniano, Oleksiy Danilov.
- "Padrões duplos" -
A visita de Xi acontecerá poucos dias após o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitir uma ordem de detenção contra Putin devido à deportação ilegal de menores de idade ucranianos, ato considerado um crime de guerra.
Ao ser questionado sobre o tema, o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, afirmou que o tribunal deveria "manter uma postura objetiva e imparcial e respeitar a imunidade de jurisdição dos chefes de Estado com base no direito internacional. Também pediu ao TPI que "evite a politização e os padrões duplos".
Após o anúncio do TPI, o ex-presidente russo Dmitri Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança Nacional, declarou que o tribunal poderia ser alvo de um míssil russo.
"Alguém poderia muito bem imaginar um ataque de alta precisão com um míssil hipersônico russo Oniks a partir de um navio russo no Mar do Norte contra o edifício do tribunal em Haia", escreveu no Telegram o ferrenho defensor da ofensiva na Ucrânia.
A viagem do presidente chinês ajudará a reforçar a posição de Putin, que está isolado no cenário internacional e que visitou no domingo a cidade ucraniana de Mariupol, seu primeiro deslocamento a um território capturado de Kiev desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro de 2022.
Xi, que tomou posse para o terceiro mandato presidencial recentemente, mencionou Putin como um "velho amigo".
Pequim e Moscou se aproximaram nos últimos anos com uma aliança "sem limites", que serviu de barreira diplomática diante das potências ocidentais.
A China critica o que considera uma campanha liderada pelos Estados Unidos contra a Rússia por causa da guerra na Ucrânia e pediu uma mediação "imparcial" no conflito.
O Kremlin acusou o governo dos Estados Unidos de fomentar o conflito na Ucrânia.
O governo dos "Estados Unidos segue firme em suas posições, que consistem em atiçar o conflito, impor obstáculos à redução da intensidade das hostilidades e continuar fornecendo armas à Ucrânia", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
- "Posição objetiva e imparcial" -
Pequim apresentou em fevereiro um documento de 12 pontos para pedir o diálogo e respeito à soberania territorial de todos os países.
"Nenhum país individualmente deve ditar a ordem internacional", escreveu Xi no artigo publicado na Rússia nesta segunda-feira.
"A China sempre defendeu uma posição objetiva e imparcial baseada no teor do problema e impulsionou ativamente as negociações de paz", acrescentou.
A postura de Pequim foi criticada pelos países ocidentais, que consideram que o país oferece cobertura diplomática à guerra russa e que suas propostas não apresentam soluções práticas.
O governo dos Estados Unidos já afirmou que não apoiaria um novo pedido chinês de cessar-fogo durante a visita de Xi a Moscou.
Xi e Putin devem ter uma reunião "informal" nesta segunda-feira e um jantar antes das negociações de terça-feira, informou o conselheiro de política externa do presidente russo, Yuri Ushakov.
Também assinarão um acordo sobre o "fortalecimento da ampla associação e das relações estratégicas" dos dois países, informou o Kremlin, além de uma declaração conjunta sobre cooperação econômica até 2030.
O The Wall Street Journal informou que Xi pode estar planejando a primeira conversa por telefone com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, desde o início do conflito.
* AFP