O presidente da Rússia, Vladimir Putin, elogiou, na segunda-feira (20), a posição "equilibrada" de seu contraparte chinês, Xi Jinping, sobre a Ucrânia e assegurou que examina "com respeito" o plano de paz de Pequim, no início de uma visita do presidente chinês a Moscou.
A visita de Estado de três dias do presidente chinês à Rússia ocorre pouco depois do aniversário de um ano da ofensiva militar russa contra a Ucrânia, que provocou significativas turbulências geopolíticas e econômicas em escala global.
— Sempre estamos abertos a negociações. Falaremos sem dúvidas de todas essas questões, incluindo suas iniciativas, que tratamos com respeito — afirmou Putin a Xi durante um encontro "informal" transmitido pela televisão russa, garantindo que Moscou e Pequim têm "inúmeros objetivos em comum".
— Sei que vocês (...) têm uma posição justa e equilibrada sobre os temas internacionais mais urgentes — acrescentou.
Xi Jinping, por sua vez, celebrou as "estreitas relações" entre os dois países e a "cooperação estratégica global", de acordo com a tradução oficial em russo de suas declarações.
A China está "disposta a permanecer de maneira firme ao lado da Rússia", em nome de um "verdadeiro multilateralismo e de uma multipolaridade no mundo", acrescentou.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, pediu que o mundo não se deixe "enganar" pelas propostas da China para pôr fim ao conflito na Ucrânia e anunciou US$ 350 milhões (R$ 1,83 bilhão) adicionais em ajuda militar a Kiev.
Pouco antes, a União Europeia havia anunciado um pacote de 2 bilhões de euros (R$ 11,23 bilhões) para facilitar a entrega de munições à artilharia ucraniana.
Para China e Rússia, a viagem tem o objetivo particular de demonstrar a força de suas relações, no momento em que os dois países enfrentam tensões com as potências ocidentais.
Para Putin, cada vez mais isolado no cenário internacional, a visita de Xi é especialmente importante. Na sexta-feira (17), o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu uma ordem de prisão contra o presidente russo por "crimes de guerra" na Ucrânia.
Após o encontro "informal" na segunda, que durou quatro horas e meia, o presidente russo acompanhou seu convidado fora do Kremlin. Nesta terça (21), os dois dirigentes manterão conversas oficiais e se espera que assinem acordos para aprofundar a cooperação bilateral, particularmente econômica.
"Paz justa e duradoura"
Depois de ter participado da recente reconciliação diplomática entre Arábia Saudita e Irã, Pequim deseja atuar como mediador na Ucrânia. A China não condenou publicamente a ofensiva da Rússia e critica o governo dos Estados Unidos por fornecer armas à Ucrânia.
No fim de fevereiro, Pequim apresentou um plano de 12 pontos para pedir negociações de paz e o respeito à integridade territorial. A postura de Pequim foi criticada pelos países ocidentais, que consideram que o país oferece cobertura diplomática à guerra russa e que suas propostas não apresentam soluções práticas.
O governo dos Estados Unidos já afirmou que não apoiaria um novo pedido chinês de cessar-fogo durante a visita de Xi a Moscou. Blinken afirmou que Washington acolhe satisfatoriamente qualquer iniciativa diplomática para uma "paz justa e duradoura", mas duvida que a China esteja salvaguardando a "soberania e a integridade territorial" da Ucrânia.
— Qualquer plano que não priorize este princípio fundamental é, na melhor das hipóteses, uma tática dilatória ou simplesmente busca um resultado injusto — insistiu.
— Pedir um cessar-fogo que não inclua a retirada das forças russas do território ucraniano seria apoiar efetivamente a ratificação da conquista russa — acrescentou.
O The Wall Street Journal reportou que Xi pode estar planejando a primeira conversa telefônica com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, desde o início do conflito.
Nessa segunda, a Ucrânia reiterou seus apelos a Moscou para que retire suas tropas e pediu que Xi "empregue sua influência sobre Moscou para acabar com a guerra de agressão" em seu território.
"Dois pesos, duas medidas"
A presença de Xi na Rússia tem ainda um aspecto econômico importante, depois que o país redirecionou sua economia para a China devido às sanções ocidentais. Segundo o Kremlin, Putin e Xi assinaram vários documentos, em especial sobre sua cooperação de agora até 2030.
A visita permite à Rússia mostrar que não está tão isolada, ainda mais depois que Putin foi acusado pelo TPI de "deportação ilegal" de menores de idade ucranianos. Ao ser questionado sobre o tema, o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, afirmou que o tribunal deveria "manter uma postura objetiva e imparcial e respeitar a imunidade de jurisdição dos chefes de Estado com base no direito internacional". Também pediu ao TPI que "evite a politização e dois pesos e duas medidas".
Em um gesto de desafio, Putin visitou no domingo a cidade ucraniana de Mariupol, em sua primeira viagem a um território capturado de Kiev desde o início da ofensiva em 24 de fevereiro de 2022.
O chefe do grupo paramilitar russo Wagner, Evgueni Prigozhin, afirmou nesta segunda que seus combatentes controlam "ao redor de 70%" de Bakhmut, cidade do leste da Ucrânia, que concentra os combates nos últimos meses.