A China "expande sua influência" na América Latina e no Caribe e "manipula" seus governos por meio de "práticas predatórias de investimento", alertaram dois generais dos Estados Unidos nesta quarta-feira (8).
O governo chinês "continua expandindo sua influência econômica, diplomática, tecnológica, informativa e militar na América Latina e no Caribe", afirmou ao Congresso a general Laura Richardson, chefe do Comando Sul. O colosso asiático "tem a capacidade e intenção" de "promover seu tipo de autoritarismo e acumular poder e influência às custas dessas democracias", lamentou perante o comitê de serviços armados, em audiência sobre os desafios de segurança nas Américas.
Por enquanto, a China "expandiu sua capacidade de extrair recursos, estabelecer portos, manipular os governos por meio de práticas predatórias de investimento, e de construir possíveis instalações espaciais de uso duplo", ressaltou a general.
Laura disse aos congressistas que os líderes latino-americanos "estão desesperados por suas economias", após terem sofrido o golpe da pandemia, e, como costumam permanecer no poder por um único mandato, têm pressa.
"Quando não há mais nada disponível, não há investimento ocidental ou internacional, nem concorrentes nas licitações que saem, quando há grandes projetos para infraestruturas críticas e só há licitantes chineses, eles não têm opção", ressaltou a general.
O general Glen D. VanHerck, chefe do comando norte, concordou. "Deveríamos estar muito preocupados com o investimento chinês em todo o hemisfério ocidental", disse, observando que, apenas no México, empresas chinesas, como a Huawei, fornecem cerca de 80% das telecomunicações. Nas Bahamas, também perseguem "agressivamente" seus objetivos econômicos, e "construíram a maior embaixada do mundo".
Richardson criticou os efeitos de uma iniciativa conhecida como Nova Rota da Seda, estratégia de desenvolvimento de infraestrutura global lançada por Pequim.
No momento em que os países latinos "tentam sair do buraco", surge a China, com bilhões de dólares disponíveis para grandes projetos, que "parecem investimentos, mas é tudo em infraestrutura crítica".
- Rússia -
Para combater a influência chinesa, Richardson defende que os Estados Unidos sejam mais proativos e "prestem mais atenção nessa região". "Estamos nos esforçando muito para acelerar os processos, porque nossos aliados veem o quão rapidamente podemos levar equipamentos para a Ucrânia, e temos que ser capazes de não demorar dois ou três anos para enviar um navio de patrulha costeira ou um avião de patrulha marítima."
A China não é o único rival dos Estados Unidos na região, mas também a Rússia, que "reforça os regimes autoritários, como Cuba, Nicarágua e Venezuela, e continua com sua extensa campanha de desinformação", destacou a general, segundo quem os dois países "exploram a presença de organizações criminosas transnacionais e amplificam seu impacto desestabilizador nos governos democráticos".
Em outro comitê do Congresso, que discutiu as ameaças globais, o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), William J. Burns, alertou para os riscos da dependência tecnológica na região.
"Podem se converter em uma espécie de economias unidimensionais cada vez mais dependentes da exportação de produtos básicos para a China, e incorrem em dívidas que também complicarão seu próprio crescimento econômico de maneira sustentável ao longo do tempo", ressaltou Burns.
Segundo o diretor, a China, principal parceiro comercial de alguns países latino-americanos, "tenta corroer" a influência de Washington naquela área, motivo pelo qual recomendou "trabalhar duro", caso a caso, para impedi-lo.
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* AFP