A Irlanda do Norte celebra em abril, em um cenário de tensões políticas e preocupação com a segurança, o 25º aniversário do acordo de paz da Sexta-Feira Santa, que acabou com três décadas de um violento conflito intercomunitário.
Em 10 de abril de 1998, Sexta-Feira Santa, os líderes nacionalistas pró-Irlanda - majoritariamente católicos - e os unionistas pró-Grã-Bretanha - principalmente protestantes - alcançaram um acordo de paz após negociações complexas que envolveram os governos de Londres, Dublin e Washington.
Mas à medida que esta região britânica se aproxima de um quarto de século de paz, o cenário é mais de reflexão que de comemoração.
As instituições regionais, onde por determinação do acordo de paz republicanos e unionistas devem compartilhar o poder, estão paralisadas há mais de um ano devido à oposição do Partido Democrático Unionista (DUP) ao protocolo pós-Brexit negociado entre Londres e Bruxelas para a Irlanda do Norte.
Além disso, após a tentativa de assassinato de um policial por dissidentes republicanos em fevereiro, o nível de ameaça terrorista foi elevado esta semana de "substancial" para "severo", o que significa que um ataque é "altamente provável".
Nas próximas semanas, Belfast terá uma série de eventos com a presença de chefes de Estado e de Governo internacionais, no poder e já aposentados, para recordar o fim de um conflito que matou mais de 3.500 pessoas.
Entre as personalidades aguardadas estão o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que aceitou o convite do primeiro-ministro britânico, Risihi Sunak, para acompanhar os eventos.
- "Sempre foi um processo" -
Biden deve visitar tanto a Irlanda do Norte como a República da Irlanda durante sua viagem.
A partir de 17 de abril, a Queen's University de Belfast receberá uma conferência de três dias, com a participação da ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton, cujo marido, Bill Clinton, teve um papel fundamental na assinatura do Acordo de Paz como presidente entre 1993 e 2001.
Os eventos se concentrarão na transformação da Irlanda do Norte nos últimos 25 anos.
Nos anos posteriores à assinatura do acordo, os paramilitares norte-irlandeses foram desarmados, a fronteira terrestre militarizada foi desmantelada e as tropas britânicas se retiraram da área.
Em uma entrevista à AFP, o ex-primeiro-ministro irlandês Bertie Ahern, que também teve um papel crucial na negociação do acordo, comparou os 25 anos de paz com o período anterior.
"Sempre foi um processo e os últimos 25 anos foram muito mais agradáveis e reconfortantes que os 25 anteriores ou talvez que os 75 anteriores", disse Ahern.
Mas a paz na Irlanda do Norte talvez seja mais precária em 2023 do que em qualquer outro momento desde a assinatura do acordo da Sexta-Feira Santa.
- Problemas com o Brexit -
O DUP boicota há mais de 13 meses as instituições regionais norte-irlandesas para protestar contra os dispositivos especiais aplicados na região após o Brexit, que entrou em vigor no início de 2021.
O partido teme que os dispositivos, que mantêm a Irlanda do Norte no mercado único europeu para evitar o retorno de uma fronteira física com a República da Irlanda - país membro da União Europeia - afastem a região do Reino Unido e aumentem a probabilidade de uma Irlanda unificada, objetivo dos republicanos.
O Brexit é "um círculo difícil de fechar" no que diz respeito à Irlanda do Norte, afirmou o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, um dos idealizadores do acordo de paz.
Em janeiro, uma pesquisa do instituto LucidTalk para o jornal The Belfast Telegraph mostrou que se o referendo de 1998 que ratificou o texto fosse repetido agora, a maioria dos unionistas votaria contra.
A tentativa de assassinato do policial John Caldwell, que foi atingido por vários tiros quando saía de um complexo esportivo com seu filho, foi condenada de maneira unânime pelo líderes políticos da Irlanda do Norte.
Mas o ataque, reivindicado por dissidentes republicanos, foi uma recordação cruel do tipo de violência que já foi comum nesta região de 1,9 milhão de habitantes.
* AFP