A cúpula sobre a proteção das florestas tropicais foi inaugurada nesta quarta-feira (1º), no Gabão, com o objetivo de procurar "soluções concretas" que permitam conciliar a gestão sustentável e o desenvolvimento dessas áreas ameaçadas.
"As florestas representam potencialmente de 20% a 30% das soluções para a mudança climática, que acredito ser a maior ameaça que enfrentamos", disse Lee White, ministro de Águas e Florestas do Gabão, na cerimônia de abertura do evento, organizado em conjunto com a França e chamado "One Forest Summit".
Centenas de pessoas se reuniram no Radisson Hotel para a abertura, lideradas por White e pela secretária de Estado francesa para o Desenvolvimento, Chrysoula Zacharopoulou.
O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou na tarde desta quarta a Libreville, a capital gabonesa. O dirigente convocou a cúpula em conjunto com o presidente do Gabão, Bongo Ondimba.
A cúpula buscará fortalecer a cooperação científica entre as maiores bacias florestais do planeta: a floresta amazônica, a bacia do Congo e as florestas tropicais do Sudeste Asiático.
A ideia é criar "cadeias mais sustentáveis" na exploração de produtos madeireiros e agroflorestais e identificar fontes de financiamento para esses projetos.
Os organizadores alertaram que o encontro em Libreville, capital do Gabão, "não visa a adoção de novas declarações políticas".
Os esforços, especificaram, visam atingir as metas já definidas pelo Acordo de Paris sobre o clima em 2015 e a COP15 da Biodiversidade em 2022.
Além de Ondimba e Macron, está prevista a participação de outros chefes de Estado africanos, como Denis Sassou-Nguesso (República do Congo) e Teodoro Obiang Nguema Mbasogo (Guiné Equatorial).
Nenhum presidente latino-americano aparece na lista.
- 'Dar o alarme' -
Todos os biomas examinados estão ameaçados pela superexploração agrícola e industrial, especialmente florestal, petrolífera e mineradora.
Na cúpula, uma atenção especial será dada à bacia do Congo, de 220 milhões de hectares (superada apenas pela amazônica), compartilhada por vários países, como a República Democrática do Congo, a República do Congo e o Gabão.
As florestas são o ambiente terrestre com maior número de espécies e biodiversidade. Mas, segundo as Nações Unidas, perderam 10 milhões de hectares por ano entre 2015 e 2020.
A cúpula servirá para "dar o alarme" sobre a gestão dos recursos florestais, disse Bonaventure Sonké, professor da Universidade de Yaoundé (Camarões) e diretor do Departamento de Ciências e Biologia da Escola Normal.
"Cerca de um terço das espécies da África tropical estão ameaçadas de extinção. Nesse ritmo, haverá mais. Na preservação, temos que pensar que o ser humano precisa desses recursos, mas também é preciso pensar em perpetuá-los", acrescentou.
E o primeiro passo é "conhecer" estes recursos, que até agora "não foram suficientemente estudados" no continente africano, ressaltou.
Isto ocorre porque "não há recursos financeiros consequentes e há cada vez menos pessoas com formação para fazê-lo", ao contrário do que ocorre na região amazônica, "onde foram mobilizados os meios necessários", assegurou.
- Ano eleitoral -
O Gabão, país anfitrião da cúpula, no coração da floresta tropical da África Central, tem 88% de cobertura florestal.
Foi o primeiro país africano a receber recursos para a proteção de suas florestas, por meio de créditos de carbono. Um mecanismo que foi amplamente discutido na COP27 sobre o clima, realizada em novembro no Egito.
"Nossa absorção líquida de CO2 é de 100 milhões de toneladas por ano. O Gabão capta três toneladas de CO2 por segundo. Estamos no caminho certo para uma economia sustentável", declarou White à AFP à margem do evento.
O país africano, onde um terço da população vive abaixo da linha da pobreza, afirma que procura sair da dependência do petróleo aliando o seu desenvolvimento industrial à gestão sustentável dos seus recursos naturais.
As autoridades se comprometeram a transformar 30% de seu território em áreas protegidas (marítimas, terrestres e fluviais) ao longo desta década.
A população gabonesa apoia esta cúpula, mas a visita de Macron, que inicia um giro pela África Central, é criticada por partidos da oposição em um ano de eleições presidenciais.
* AFP