Líderes dos 22 países reunidos na Cúpula Ibero-Americana vão buscar, a partir desta sexta-feira (24), na República Dominicana, acordos sobre meios para abordar a difícil crise econômica deixada pela pandemia de covid-19 e agravada pela invasão russa da Ucrânia.
A América Latina, que enfrenta um 2023 difícil segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aposta em melhores condições de financiamento e apoio para enfrentar uma crise alimentar que afeta, ao menos, 25% de sua população.
Confirmaram presença 14 dos 22 chefes de Estado e de governo convidados para a reunião em Santo Domingo, que será aberta às 19h locais de hoje (20h em Brasília) e encerrada com uma declaração conjunta no sábado.
Nesta sexta, os chanceleres dos países representados participaram de uma reunião prévia para finalizar o documento que será assinado pelos chefes de Estado e de governo.
À margem desse encontro, o rei da Espanha, Felipe VI, e o presidente chileno, Gabriel Boric, mantiveram diálogos bilaterais com o chefe de Estado anfitrião, Luis Abinader, no Palácio Nacional.
A organização informou que destinaria espaços para outras reuniões bilaterais, mas não divulgou nenhuma agenda até o momento.
O encontro também vai servir como preparação para a cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE), marcada para os dias 17 e 18 de julho, na Bélgica.
"A confluência de duas cúpulas neste semestre demonstra o interesse compartilhado em reativar a 'outra relação transatlântica'", escreveu em uma coluna o alto representante para a política externa da UE, Josep Borrell, que participa da cúpula ibero-americana.
"A concorrência estratégica entre Estados Unidos e China, a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a ascensão do chamado 'Sul Global' levam o mundo para uma multipolaridade desordenada e instável", continuou.
"Não é um convite ao isolamento, mas uma oportunidade para fortalecer nossa cooperação [...] A América Latina e o Caribe são parceiros fundamentais", frisou Borrell.
- 'Ponto central' -
Um tema de destaque será o acesso a financiamento para países pobres.
"É um ponto central", declarou Rubén Silié, vice-ministro de Política Externa Multilateral do país anfitrião.
Os atuais "são financiamentos que não levam em consideração a situação de crise que nossos países estão vivenciando", explicou Silié em coletiva de imprensa esta semana. "Com a sobrecarga que veio com a crise da saúde e, depois, com a crise na Europa, serão necessárias condições de financiamento completamente novas", acrescentou.
O BID prevê um crescimento de 1% para América Latina e Caribe, inferior ao 1,8% projetado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Além disso, a região tem o custo mais alto do mundo para uma dieta saudável (US$ 3,89 diários por pessoa, cerca de R$ 20 no câmbio atual), inacessível para 22,5% de sua população, segundo as Nações Unidas.
Um encontro empresarial ibero-americano será concluído nesta sexta, antes da cúpula, com uma conversa entre chefes de Estado e de governo. Participarão do evento Abinader e os presidentes de Equador, Guillermo Lasso; Colômbia, Gustavo Petro; Paraguai, Mario Abdo Benítez; e Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.
- 'Tensões' -
Uma das ausências de destaque na cúpula é o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que não enviou o seu chanceler, mas sim o subsecretário para a América Latina e o Caribe, Maximiliano Reyes.
Para Mariano de Alba, analista internacional do Crisis Group, essa decisão se dá em virtude do mau momento das relações entre Espanha e México, após as denúncias de López Obrador contra empresas espanholas em seu país, as quais acusou de pagar propina em troca de contratos no passado, com a cumplicidade dos governos dos dois países.
De qualquer maneira, "sempre existiram tensões com a Espanha" nas cúpulas ibero-americanas, indicou o especialista, que citou o famoso "por que não te calas" do rei Juan Carlos ao então presidente venezuelano Hugo Chávez em 2007.
Outro tema quente, mas que não será protagonista da cúpula, é a migração, segundo De Alba, que, no entanto, acredita que será uma questão mais discutida durante as reuniões bilaterais.
De fato, o assunto foi tratado no encontro entre Boric e Abinader, segundo o presidente chileno.
"Conversamos sobre a importância de abordar a migração, combater a corrupção e os desafios da mudança climática. Também falamos sobre os impactos da invasão da Ucrânia e os esforços de paz", escreveu o líder chileno no Twitter.
* AFP