Enquanto os aliados ocidentais enviam armas pesadas para ajudar a Ucrânia a recuperar o território ocupado, Moscou intensifica os ataques na frente oriental. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse na quarta-feira (1º) que as forças russas estão prestes a iniciar uma nova ofensiva.
Ambos os lados se preparam para um combate terrestre mais pesado há meses. Enquanto a Rússia continua com o objetivo de capturar toda a região de Donbass, no leste da Ucrânia, Kiev prossegue na luta para expulsar completamente as tropas russas.
O Exército do presidente russo, Vladimir Putin, tem atacado com artilharia em uma intensidade não registrada desde setembro e despachado dezenas de milhares de soldados para testar as defesas ucranianas em um trecho de 225 quilômetros da linha de frente em Donbass.
— A Rússia realmente quer algum tipo de grande revanche. E ela já começou — disse Zelensky.
Na cidade de Bakhmut, as forças russas estão aumentando a pressão, enviando levas de combatentes para quebrar a resistência da Ucrânia e mirando as linhas de abastecimento em uma campanha que pode garantir a primeira vitória significativa de Moscou em meses.
Bakhmut e as áreas ao redor se tornaram centro de combates intensos, com importância crescente à medida que ambos os lados adicionam forças à batalha. Ao intensificar os esforços em Bakhmut, Moscou tenta conquistar a chave para tomar toda a área de Donbass, após meses de bombardeios que renderam poucos ganhos.
Andri Yusov, que representa o departamento de inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia, disse esperar que os combates, em geral, se intensifiquem em fevereiro e março.
— Estamos às vésperas de uma fase muito ativa — disse ele à TV nacional ucraniana.
Ainda no leste, na cidade de Kramatorsk, pelo menos duas pessoas morreram na quarta-feira num bombardeio russo contra um edifício residencial. "Os ocupantes russos atingiram um prédio residencial no centro da cidade com um foguete", disse o governador regional Pavlo Kirilenko em uma mensagem no Telegram.
320 mil soldados russos
A Ucrânia e a Rússia travaram um combate extenuante por quase um ano. Desde setembro, quando a Ucrânia recuperou o território em contraofensivas no nordeste e no sul, a luta no leste parou em trincheiras lamacentas e congeladas, com cada Exército causando pesadas perdas para o outro lado enquanto acumulavam ganhos insignificantes.
No entanto, desde que o Kremlin nomeou o general Valeri Gerasimov para assumir o comando da guerra, a Rússia aumentou suas forças em Donbass, segundo oficiais militares ucranianos.
A inteligência ucraniana estima que a Rússia tenha agora mais de 320 mil soldados no país - aproximadamente o dobro do tamanho da força de invasão inicial de Moscou. Autoridades ocidentais e analistas militares disseram que Moscou também tem de 150 mil a 250 mil soldados na reserva, treinando ou sendo posicionados dentro da Rússia para se juntarem à luta a qualquer momento.
— Eles estão se preparando para mais guerra, estão mobilizando mais soldados, mais de 200 mil, e até mais do que isso — disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, a repórteres durante visita à Coreia do Sul na segunda-feira.
— Eles estão adquirindo ativamente novas armas, mais munição, aumentando sua própria produção, mas também adquirindo mais armas de outros Estados autoritários, como Irã e Coreia do Norte — acrescentou Stoltenberg.
Um aumento no bombardeio russo acompanhou o acúmulo de forças. Konrad Muzika, analista militar da Rochan Consulting, que rastreia as ações militares russas, disse que os disparos de artilharia russas aumentaram de uma média de 60 por dia, há quatro semanas, para mais de 90 por dia, na semana passada, com 111 localizações ucranianas visadas em um único dia.
Ele também disse que "os russos estão retirando muitos equipamentos das áreas de armazenamento". Ainda assim, ele concordou com outros analistas que dizem que a Rússia terá dificuldade em equipar um grande número de novos soldados com tanques, veículos blindados e outros equipamentos eficazes.