Jacinda Ardern prometeu uma "positividade implacável" como primeira-ministra da Nova Zelândia, mas, ao anunciar sua renúncia inesperada nesta quinta-feira (19), admitiu o desgaste sofrido pelas intensas demandas do cargo.
Ardern, de 42 anos, foi eleita primeira-ministra em 2017 e, em seu primeiro mandato tumultuado, enfrentou o pior ataque terrorista da história da Nova Zelândia, uma erupção vulcânica mortal e a pandemia da covid-19.
Com apenas 37 anos na época, ela se tornou a governante mais jovem desde 1856 e um ícone global da política progressista.
Ardern conquistou um segundo mandato em 2020, mas, desde o auge da "Jacindamania", sua popularidade diminuiu, pressionada pela crescente desconfiança no governo, pela deterioração da economia e pelo aumento da oposição conservadora.
O estresse ficou evidente nos últimos meses, como quando Ardern mostrou uma rara perda de compostura ao ser vista com um microfone chamando um político da oposição de "idiota arrogante".
"Esses foram os cinco anos e meio mais gratificantes da minha vida, mas também houve desafios", declarou Ardern nesta quinta-feira.
"Eu sei o que este trabalho exige e sei que não tenho mais energia para fazer justiça a ele, é simples assim", disse ela.
Com apenas 18 meses no cargo, um supremacista branco armado disparou contra duas mesquitas em Christchurch durante as orações de sexta-feira, deixando 51 muçulmanos mortos e 40 feridos.
A resposta precisa e compassiva de Ardern ao ataque de ódio definiu a imagem da carismática líder de centro-esquerda em todo o mundo. Também repercutiu quando ela usou um lenço para confortar as famílias das vítimas dos tiroteios.
Ardern foi elogiada por sua rápida resposta política ao tiroteio, incluindo a adoção de reformas na lei de armas e pressão nas redes sociais para combater o discurso de ódio.
Depois do episódio de Christchurch, ela teve de oferecer consolo ao país, mais uma vez, quando o vulcão White Island entrou em erupção. O episódio deixou 21 mortos, e dezenas de pessoas, com queimaduras graves.
Durante a pandemia, Ardern lembrou os neozelandeses, constantemente, de serem "gentis", convocando-os a enfrentar o coronavírus como "um time de cinco milhões de pessoas".
Contou com o enfático apoio da população, que a elegeu para um segundo mandato de três anos em outubro de 2020. Sua proposta eleitoral se concentrou fortemente no sucesso de seu governo em conter a pandemia de coronavírus.
A vida na Nova Zelândia em geral voltou ao normal, após uma série de rígidos confinamentos.
Ardern cresceu no interior da Ilha do Norte, onde seu pai era policial. Ela diz que a pobreza que viu por lá moldou seu credo. Embora tenha sido criada como mórmon, abandonou a fé em sua juventude por causa da posição dessa igreja contra a homossexualidade.
Depois de estudar Comunicação, Ardern iniciou sua carreira política no gabinete da primeira-ministra Helen Clark, antes de ir para o Reino Unido para trabalhar como assessora do governo de Tony Blair.
Foi eleita ao Parlamento em 2008 e, em março de 2017, tornou-se líder trabalhista, sete semanas antes das eleições naquele ano. Um ano depois, tornou-se a segunda primeira-ministra do mundo a dar à luz, enquanto estava no cargo. A primeira foi a paquistanesa Benazir Bhutto, em 1990.
* AFP