O Congresso do Peru tentará nesta terça-feira (31) retomar a sessão para decidir sobre a antecipação das eleições gerais para este ano, depois que os trabalhos foram suspensos na segunda (30), após sete horas de debates que não permitiram alcançar uma solução política que visa a apaziguar o setor da sociedade que exige uma mudança na presidência.
— Temos certeza de que haverá uma saída. Todas as bancadas democráticas vão debater e levarão em consideração o elevado senso de urgência — declarou na segunda-feira o chefe de gabinete da presidência, Alberto Otárola, antes da suspensão dos debates.
A sessão parlamentar deve ser retomada às 11h (13h de Brasília). Sindicatos e trabalhadores rurais do sul andino do Peru e de outras regiões programaram protestos no centro de Lima durante a tarde, com o lema "A Grande Marcha, Dina renuncie já".
O líder da Confederação Geral de Trabalhadores do Peru (CGTP), Gerónimo López lamentou que o Congresso "permaneça aferrado aos cargos".
— Vemos uma presidente que faz discursos e bajula o Congresso, não há vontade política para ouvir a plataforma de luta do povo. O povo exige a renúncia imediata da presidente Dina Boluarte — acrescentou.
A crise política e social, que provocou 48 mortes em cidades do sul do país e em Lima em sete semanas, não dá sinais de trégua.
O poder político não conseguiu encontrar uma resposta às demandas da população, em particular dos trabalhadores rurais do sul andino de maioria indígena, historicamente negligenciados, que acreditavam em melhores condições de vida com a eleição do esquerdista Pedro Castillo à presidência (2021-2022), que foi destituído e detido em 7 de dezembro após tentar dissolver o Congresso. Dina Boluarte, que era vice-presidente, assumiu o comando do governo.
Tropas contra os bloqueios
Dezenas de militares foram deslocados para Ica, 250 quilômetros ao sul de Lima, para apoiar a polícia na desobstrução da rodovia Pan-Americana Sul e garantir o trânsito. Os bloqueios de estradas causaram escassez de produtos básicos e de combustível em várias províncias.
Boluarte reconheceu que a crise se agravou com um cenário de protestos violentos e bloqueios, que inclusive levaram alguns habitantes a recorrer ao carvão ou à lenha para cozinhar na falta de gás em regiões como Puerto Maldonado, na selva peruana, denunciaram moradores à imprensa local.
No distrito de Poroy, a 15 quilômetros da cidade de Cusco, cerca de 300 pessoas faziam fila para comprar um botijão de gás.
— Tem gente que está na fila desde as três da manhã (...) Faz duas semanas que não tenho gás. Temos que voltar no tempo e cozinhar com lenha e carvão, que é difícil, machuca os pulmões — declarou à AFP a dona de casa Gabriela Álvarez, 33 anos.
Em Puerto Maldonado, 1,58 mil quilômetros ao sudeste de Lima, na região amazônica, longas filas de veículos peruanos aguardavam para abastecer em cidades fronteiriças com o Brasil. Os bloqueios também geraram problemas para pacientes em estado grave que precisam de transferências, tratamentos contra o câncer e prejudicaram a distribuição de serviços médicos em várias regiões do país.
A mina peruana de cobre Las Bambas, operada pela chinesa MMG e que fornece cerca de 2% do volume mundial do metal, anunciou que suspenderá as operações a partir de quarta-feira se os bloqueios continuarem.
Em Washington, a Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou estar "consternada" com a violência no Peru, e pediu ao governo que realize "em breve" eleições sob observação internacional. Também expressou preocupação com suposto uso excessivo da força nos protestos que pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte.
Os Estados Unidos, por meio do embaixador Francisco Mora, enfatizaram que "o momento das eleições no Peru é uma questão a ser decidida pelos líderes e instituições do país". Também pediram à comunidade internacional que apoie o governo de Boluarte.