O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, denunciou neste sábado (24) um "ato de terror" russo para "intimidar" o país, após um bombardeio em pleno centro de Kherson (sul) que deixou ao menos sete mortos e vários feridos na véspera do Natal.
"Durante a manhã de sábado, véspera de Natal, no centro da cidade. Não são instalações militares. Não é uma guerra que segue as regras definidas. É terror, é matar para intimidar e (ter) prazer", criticou o presidente ucraniano nas redes sociais.
De acordo com a presidência ucraniana e o governador regional Yaroslav Yanushevich, "o ataque matou sete pessoas e 58 habitantes foram feridos, 18 deles em estado grave".
Um balanço anterior do Ministério Público ucraniano citava oito mortos e 17 feridos.
"O mundo deve observar e compreender contra que mal absoluto estamos lutando", afirmou Zelensky, que mais uma vez chamou o exército russo de "terrorista".
"Esta é a verdadeira vida da Ucrânia e dos ucranianos desde que a guerra começou, há 10 meses", acrescentou.
Em Ancara, o ministro da Defesa da Turquia, Halusi Akar, cujo país atua como mediador no conflito, disse que "esta guerra não parece que vai terminar facilmente".
Em Kherson, uma equipe da AFP viu muitos corpos no chão.
"Os serviços de resgate tentaram salvá-lo, mas ele não estava mais respirando", disse uma mulher que viu o marido, Oleksii, morrer no bombardeio. Ao lado do corpo, com o olhar vazio, ela apertava as mãos ensanguentadas do marido.
Leonid Tataryn, morador da cidade, de 38 anos, relatou um "bombardeio contra uma loja e depois contra o mercado central e as imediações.
- "Já estava morto" -
Oleksander Kudriashov, 43 anos, lamentava a morte de "Liosha", um homem que "trabalhava aqui há 20 anos ou mais", vendendo carne.
Quando o ataque aconteceu, Liosha "havia saído para fumar um cigarro", conta Oleksander. "Quando pegamos o corpo, ele já estava morto".
Perto do mercado de Kherson , um repórter da AFP observou um homem gravemente ferido na cabeça. O carro dele foi destruído na explosão.
O corpo de uma idosa, com um casaco vermelho, estava a poucos metros do local.
O mercado estava em chamas. O local, muito movimentado na manhã de sábado, fica no centro de Kherson, cidade que o exército ucraniano recuperou em novembro, durante uma prolongada contraofensiva, após oito meses de ocupação russa.
Desde então, a cidade é alvo de bombardeios russos, em particular contra as instalações do sistema de energia.
"Enquanto as famílias da Europa, da América do Norte e de outras regiões preparam as ceias para a celebração, por favor pensem na Ucrânia, que está combatendo o mal neste momentos", tuitou o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba.
Na região leste, os russos prosseguem com os bombardeios contra Bakhmut - cidade que as tropas de Moscou tentam controlar há vários meses.
- Mais ajuda -
Para enfrentar a ofensiva russa, Kiev pediu mais ajuda financeira e militar aos ocidentais.
Na sexta-feira, dois dias após a visita de Zelensky a Washington, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma extensão orçamentária que prevê uma verba de 45 bilhões de dólares para a Ucrânia.
"Realmente, não é - como disse o presidente ucraniano na outra noite - caridade. Trata-se de segurança, trata-se de trabalhar juntos", disse Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes.
Até 2023, Kiev poderá contar com 2,5 bilhões de euros (US$ 2,66 bilhões) em ajuda da Holanda, principalmente para suas Forças Armadas, anunciou na sexta-feira o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte.
A invasão russa também afeta consideravelmente a economia ucraniana, atualmente concentrada nos esforços bélicos.
A colheita de cereais no país, um dos principais produtores mundiais de grãos do mundo, deve cair quase 40% este ano na comparação com 2021, segundo uma estimativa de profissionais do setor.
Ao mesmo tempo, "dois mercenários e dois soldados russos" acusados de "torturar" três soldados ucranianos na região de Izum foram condenados a 11 anos de prisão na Ucrânia, anunciou o MP de Kiev neste sábado.
Os soldados ucranianos "foram sequestrados e mantidos em um local sem água ou comida", explicou o Ministério Público em um comunicado. "Os ocupantes agrediram um (dos soldados) com um martelo", acrescenta a nota.
"Os quatro homens admitiram a culpa e pediram desculpas", segundo o texto do MP.
* AFP