O Parlamento Europeu destituiu, nesta terça-feira (13), do cargo de vice-presidente a legisladora grega Eva Kaili, detida por suspeita de aceitar subornos, em uma reação para tentar recuperar a credibilidade da instituição, muito abalada pelo escândalo. O plenário aprovou por 625 votos a favor e apenas um contra, além de duas abstenções, a destituição da social-democrata do cargo.
A remoção de Kaili havia sido recomendada pela Conferência de Presidentes, grupo formado pela presidente do Parlamento e pelos líderes das diferentes bancadas políticas.
A assessoria de comunicação do Parlamento Europeu anunciou que a votação para a destituição da legisladora foi baseada nos regimentos internos e aconteceu no contexto das investigações na Bélgica que envolvem membros e funcionários da instituição legislativa.
Uma investigação do Ministério Público belga provocou a detenção e indiciamento de Kaili e de outras três pessoas por suspeitas de receberem grandes quantias de dinheiro de um "Estado do Golfo Pérsico", que seria o Catar, para defender os interesses do país no Parlamento.
A deputada de 44 anos foi detida depois que os investigadores belgas encontraram, em sua residência, bolsas repletas de dinheiro. O advogado de Kaili, no entanto, afirma que ela "não aceitou nenhum suborno do Catar".
— Sua posição é de que é inocente. Não tem nada a ver com subornos do Catar — declarou o advogado Michalis Dimitrakopoulos.
O MP belga anunciou na segunda-feira (12) que operações realizadas em três locais diferentes apreenderam centenas de milhares de euros em espécie. A polícia também fez uma operação de busca e apreensão em um gabinete do Parlamento Europeu em Bruxelas para obter dados dos computadores de uma dezena de funcionários.
Reforma e transparência
O escândalo representa um golpe brutal para a credibilidade do Parlamento Europeu, que costuma tomar a iniciativa e denunciar casos de corrupção. A presidente do Parlamento, a conservadora Roberta Metsola, de Malta, expressou "fúria, raiva e tristeza" com o caso. E afirmou que o ocorrido representa um "ataque" ao Legislativo e à democracia europeia.
— Vamos iniciar um processo de reforma para ver quem tem acesso a nossas instalações, como são financiadas estas organizações, ONGs e pessoas, quais vínculos possuem com terceiros países. Pediremos mais transparência nas reuniões com estrangeiros — prometeu Metsola.
Nesta terça-feira, ela e os líderes das diversas bancadas anunciaram a abertura de um processo interno de reforma no Parlamento para "garantir que a transparência e prestação de contas serão reforçadas".
Diante do escândalo, a pauta do plenário do Legislativo para esta terça-feira foi modificada para um debate sobre o caso. Na quinta-feira (15), será votado um texto que pede mais transparência nas instituições europeias.
O deputado social-democrata alemão René Repasi manifestou o receio de que o caso Kaili seja apenas o início de um pesadelo maior.
— Temo que o que vimos até agora seja apenas a ponta do iceberg — disse à Agence France-Presse (AFP).
Uma das atribuições de Kaili como vice-presidente era representar a presidência do Parlamento no Oriente Médio, função que foi revogada pela própria Metsola imediatamente após a detenção.
Diante da magnitude do caso, a ex-apresentadora de TV também foi expulsa do Partido Socialista Grego (Pasok-Kinal), onde já era considerada uma figura muito polêmica, e foi removida da bancada social-democrata no Parlamento Europeu.
Além disso, ela teve os bens congelados pela Autoridade Grega de Luta contra a Lavagem de Dinheiro. A continuidade da detenção de Kaili será examinada na quarta-feira (14) por um tribunal belga.