A França e diferentes atores regionais pediram ao Iraque nesta terça-feira (20), durante uma cúpula na Jordânia, que se afaste do eixo iraniano para favorecer a resolução das crises que assolam o Oriente Médio.
A conferência "Bagdá II", às margens do Mar Morto, e da qual participam a França e a União Europeia (UE), é a continuação da realizada em agosto de 2021 na capital iraquiana por iniciativa do presidente francês.
"O Iraque hoje é palco de influências, incursões, desestabilizações que estão ligadas a toda a região", disse Emmanuel Macron sem citar o Irã, representado na conferência por seu ministro das Relações Exteriores, Amir Abdolahian.
O presidente francês exortou o Iraque a seguir um caminho diferente daquele de um "modelo ditado de fora", numa alusão a Teerã.
- Um teste para o Iraque -
O presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi, que também participa da cúpula, destacou "a rejeição do Egito às intervenções estrangeiras no Iraque".
A conferência é um teste para o iraquiano Mohamed Shia Sudani, nomeado primeiro-ministro no final de outubro após mais de um ano de estagnação política.
Em seu discurso, Sudani prometeu manter "relações equilibradas com todos os parceiros regionais e internacionais" e ficar "longe de eixos políticos".
O iraniano Amir Abdolahian, por sua vez, se pronunciou a favor de "um diálogo entre os países da região para alcançar a paz".
Em um discurso, parcialmente em francês, o rei Abdullah II da Jordânia enfatizou o "papel central do Iraque" na manutenção da "estabilidade" regional.
Uma aposta complexa numa região que continua sempre instável.
Nos últimos três meses, o Irã reprimiu violentamente uma onda de protestos desencadeados pela morte da curda-iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro, enquanto estava sob custódia policial.
Enquanto isso, a Síria continua sendo um campo de batalha de interesses geopolíticos opostos e o Líbano vive uma estagnação econômica e política.
"Nesta cúpula há grandes ambições, mas ninguém espera um milagre", afirmou Riad Kahwaji, diretor do Instituto de Análise Militar do Oriente Próximo e do Golfo.
O chefe diplomático da União Europeia, Josep Borrell, se reuniu antes do início da conferência com Abdolahian.
"Uma reunião necessária com o ministro iraniano (...) em um momento de deterioração das relações entre a UE e o Irã", tuitou Borrell. "Apontei a necessidade de interromper imediatamente o apoio militar à Rússia e a repressão interna no Irã", acrescentou.
- Sanções ilegais -
A reunião ocorre em um momento de impasse nas negociações nucleares com o Irã e depois que a UE impôs novas sanções a Teerã em protesto contra sua repressão às manifestações que abalam o país e seu fornecimento de drones à Rússia para a guerra na Ucrânia.
Amir-Abdollahian, por sua vez, "condenou a abordagem dos países ocidentais que consiste em apoiar os manifestantes e impor sanções ilegais".
Teerã acusa sua rival regional, a Arábia Saudita, com a qual não mantém relações desde 2016, de fomentar os protestos no Irã.
O ministro iraniano Amir Abdolahian disse na segunda-feira que Teerã está "pronta para retomar as relações normais" com Riade "quando o lado saudita estiver pronto".
O papel mediador da França é crucial para "manter o diálogo entre o Ocidente e o Irã, especialmente com o impasse nas negociações nucleares de Viena", disse Kahwaji.
O analista acredita que é preciso medir "a disposição de Teerã, que tem papel central nas crises regionais - do Iraque à Síria e Líbano e Iêmen - de chegar a um acordo".
Ele observou que o envolvimento do Irã no conflito da Ucrânia, por meio do fornecimento de drones para a Rússia, complica ainda mais as discussões.
A nomeação também deve abordar questões como aquecimento global, segurança alimentar, recursos hídricos e cooperação energética.
Macron se encontrará com o rei Abdullah II da Jordânia, um "aliado na luta contra o terrorismo", segundo Paris.
* AFP