Meio milhão de pessoas estão sendo infectadas diariamente pela covid-19 na cidade chinesa de Qingdao, informou uma autoridade local de saúde, em um raro reconhecimento da nova onda de infecções que atinge o país asiático.
A China começou a suspender neste mês os principais elementos de sua estratégia de 'covid zero', com o fim dos confinamentos, quarentenas e restrições de viagens. As prateleiras das farmácias em todo o país estão quase vazias, os hospitais lotados e os crematórios e funerárias mal conseguem acompanhar o surto da doença.
O fim dos testes obrigatórios impossibilita o devido rastreamento dos contágios. As autoridades modificaram a definição médica de morte por covid-19, o que, segundo especialistas, reduzirá o número de óbitos atribuídos ao vírus.
Um veículo de comunicação ligado ao Partido Comunista em Qingdao, leste do país, citou na última sexta-feira (23) uma declaração do secretário municipal de Saúde, segundo a qual a cidade registra "entre 490.000 e 530.000" novos casos diários de covid-19. A localidade costeira, de quase 10 milhões de habitantes, enfrenta "um período de rápida transmissão e se aproxima do pico", declarou o secretário.
A informação sobre Qingdao foi compartilhada por vários meios de comunicação, mas neste sábado (24) parecia ter sido editada para suprimir o número de contágios. A Comissão Nacional da Saúde (CNS) informou neste sábado que o país registrou na sexta-feira (23) apenas 4.103 novos contágios de coronavírus, sem mortes.
Na província de Shangdong, onde fica Qingdao, as autoridades anunciaram oficialmente apenas 31 novos contágios. O governo chinês controla a imprensa, com legiões de censores na internet que suprimem os conteúdos considerados politicamente sensíveis.
A maior parte da imprensa controlada pelo governo minimiza a gravidade da onda de contágios e ressalta uma mudança de política apontada como lógica e coordenada. Contudo, o governo da província de Jiangxi anunciou nas redes sociais na sexta-feira que 80% de sua população - quase 36 milhões de pessoas - pode ser infectada até março.
A cidade industrial de Dongguan, sul do país, anunciou na sexta-feira que, segundo os dados recebidos, até 300.0000 novas infecções estão sendo registradas a cada dia. Além disso, o ritmo "é cada vez mais rápido".
"Muitos recursos e profissionais da saúde estão enfrentando desafios muito duros e uma pressão gigantesca, algo que não tem precedentes", destacou a secretaria de Saúde da cidade, de 10,5 milhões de habitantes, em um comunicado. A secretaria também publicou um vídeo que mostra pacientes conectados a soros, em uma fila do lado de fora de uma clínica, e um médico dormindo em sua mesa após longas jornadas de trabalho.
Uma autoridade de saúde de Hainan disse na sexta-feira que a província pode atingir o pico de infecções "em breve". Em Xangai, mais de 40.000 pacientes estão sendo tratados por "febre", informou o Diário do Povo, jornal ligado ao governo, neste sábado.
Em Chongqing, cidade de de 32 milhões de habitantes, as autoridades iniciaram uma campanha para administrar vacinas inaláveis nos moradores, enquanto os hospitais estão superlotados, com muitos idosos infectados pela covid-19.
* AFP