Donald Trump esperava surfar uma "onda vermelha" — cor dos republicanos — de olho em uma nova candidatura presidencial em 2024, após as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, mas com conquistas limitadas e um resultado de destaque de seu principal adversário dentro do partido, o ex-presidente parece ter morrido na praia.
O ex-inquilino da Casa Branca (2017-2021), que insinuou que anunciará a nova candidatura presidencial em 15 de novembro, atuou nas primárias republicanas e realizou comícios em todo o país, nos quais repetiu as declarações infundadas de fraude nas eleições de 2020, quando perdeu para o democrata Joe Biden.
Mas vários dos candidatos que escolheu a dedo não se saíram bem nas urnas na terça-feira. Alguns, inclusive, perderam para os democratas assentos antes ocupados por republicanos.
Analistas e alguns membros de seu partido o culpam pelo resultado, apesar da chance de recuperar por uma estreita margem a Câmara dos Representantes. O controle do Senado é incerto.
"Embora de certa forma as eleições de ontem tenham sido um pouco decepcionantes, da minha perspectiva pessoal foram uma grande vitória", disse Trump na quarta-feira (9) em sua rede social, a Truth Social.
Contudo, sem dúvida, a vitória de maior destaque do lado conservador foi a de Ron DeSantis, que foi reeleito governador da Flórida e se consolidou uma estrela republicana em ascensão e o mais forte oponente de Trump para a nomeação presidencial republicana de 2024.
Um editorial da emissora Fox News, de viés conservador, proclamou DeSantis como "o novo líder do Partido Republicano". Questionado na quarta-feira sobre a rivalidade Trump-DeSantis, o presidente Biden afirmou que "seria divertido vê-los duelar".
Embora ainda não haja resultados finais completos, o mapa político que se desenhava claramente não se parece com o que tinha sido projetado.
— Não deveria ter sido tão difícil para os republicanos recuperar o controle da Câmara dos Representantes e do Senado — disse à AFP Jon Rogowski, professor de Ciência Política na Universidade de Chicago. Sobretudo, se somados os contextos de alta inflação e baixa popularidade do presidente Joe Biden.
— Muitos candidatos (que Donald Trump apoiou) tiveram um desempenho inferior e custaram ao seu partido a oportunidade de conquistar assentos que deveriam ser alcançáveis para os republicanos — destacou Rogowski.
— Enquanto isso, outros candidatos republicanos com os quais brigou publicamente conquistaram facilmente seus assentos — acrescentou.
Um exemplo foi Brian Kemp, abertamente contrário a Trump, que manteve o cargo de governador da Geórgia.
"Qualidade" dos candidatos
Os resultados mostram que "você pode ser conservador, ter princípios, se opor a Trump e vencer", declarou à AFP Peter Loge, professor da Universidade George Washington.
— É realmente um ponto de inflexão para o Partido Republicano — disse à emissora CNN nesta quarta-feira Geoff Duncan, vice-governador republicano da Geórgia, que durante muito tempo foi abertamente crítico ao ex-presidente.
— É hora de seguir adiante — acrescentou.
Antes das eleições, o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, já se preocupava com a "qualidade" dos candidatos apoiados por Trump.
Em vista dos resultados, o ex-presidente poderia ter perdido sua aura de "fazedor de reis". O célebre cirurgião Mehmet Oz, apoiado por Trump, não levou o assento-chave de senador no disputado Estado da Pensilvânia.
Também neste Estado, o candidato ultraconservador e antiaborto Doug Mastriano, que esteve na ocupação do Capitólio, foi derrotado em sua candidatura ao governo. Uma exceção notável foi a do trumpista J.D. Vance, eleito senador por Ohio. Segundo projeções da mídia, mais de cem candidatos republicanos que não reconhecem o resultado das eleições presidenciais de 2020 foram eleitos na terça-feira a cargos locais e nacionais.
Caminho para a Presidência
Na manhã de quarta-feira, o ex-presidente estava "furioso" e "gritando com todo mundo", admitiu um de seus assessores, citado sob anonimato pelo renomado jornalista da CNN Jim Acosta. Trump rejeitou essas afirmações em entrevista à Fox News e reafirmou que o discurso marcado para 15 de novembro em sua residência na Flórida continua de pé.
— Por que mudaria? — respondeu o ex-presidente ao ser questionado sobre uma possível mudança de planos.
Nesse dia, se os republicanos conseguirem a maioria na Câmara, Trump não se importará em "tomar o crédito", prevê Rogowski.
Segundo o especialista, com uma candidatura presidencial anunciada dois anos antes do prazo, o ex-inquilino da Casa Branca buscaria, sobretudo, pegar seus adversários de surpresa.
— Se ele sentisse que estava em uma posição melhor, não precisaria aparecer tão cedo.
Nesse mesmo 15 de novembro, outro rival de Trump, seu ex-vice-presidente Mike Pence, publicará suas memórias, cujos melhores trechos foram publicados oportunamente nesta quarta-feira no Wall Street Journal. No texto, Pence relata as pressões sofridas para anular os resultados das eleições presidenciais de 2020.