A confusão reinava neste sábado (1º) em Burkina Faso, um dia depois de um golpe militar que, no entanto, o Estado-Maior não classifica como tal e que provocou tensões nas ruas da capital.
Em sua primeira declaração desde sexta-feira, quando os militares destituíram o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, o Estado-Maior das Forças Armadas disse neste sábado que na verdade enfrenta uma "crise interna", mas que as "consultas" continuam.
"Algumas unidades assumiram o controle de certas ruas da cidade de Uagadugu, exigindo uma declaração de saída do tenente-coronel Damiba", acrescenta o comunicado, que destaca que essa tensão "não representa a posição da instituição".
Em um discurso transmitido na televisão, os golpistas afirmaram que o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba "teria se refugiado na base francesa de Kamboinsin, com o objetivo de planejar uma contraofensiva para causar problemas em nossas forças de defesa e segurança".
O ministério francês das Relações Exteriores negou formalmente "qualquer envolvimento nos fatos desde ontem em Burkina".
Os militares destituíram na sexta-feira Damiba, chefe da junta que chegou ao poder no final de janeiro, também por meio de um golpe.
Ele foi substituído à frente da junta por Ibrahim Traoré, um capitão de 34 anos.
Depois de uma noite e uma manhã tranquilas, várias testemunhas disseram à AFP que ouviram uma rajada de tiros perto da rotatória das Nações Unidas no centro da cidade no final da manhã.
Assim como no dia anterior, os militares retomaram suas posições para bloquear as principais vias da cidade e em particular o bairro onde está localizada a Presidência.
Nas ruas, vários moradores receberam de maneira positiva o novo golpe.
"Damiba fracassou. Desde que chegou ao poder, áreas que estavam em paz estão sob cerco. Ele assumiu o poder e depois nos traiu", disse Habibata Rouamba, um comerciante e ativista da sociedade civil.
"Em termos de segurança, nada vai bem, não há resultados (...)", disse Honoré Yonli, diretor de uma organização de jovens empreendedores.
- Deterioração da segurança -
Na noite de sexta-feira, após um dia de tiroteio no bairro presidencial de Ouagadougou, quinze soldados fizeram um discurso, pouco antes das 20h00 (horário local) no estúdio da rádio e da televisão nacional.
No discurso, destituíram o coronel Damiba - cujo destino permanece desconhecido neste sábado - e anunciaram o fechamento das fronteiras terrestres e aéreas, bem como a suspensão da Constituição, a dissolução do governo e da Assembleia Legislativa de Transição.
Também foi estabelecido toque de recolher das 21h às 5h. Os militares invocam "a contínua deterioração da situação de segurança" no país.
O novo chefe da junta, capitão Traoré, era até agora o chefe do Regimento de Artilharia de Kaya, no norte do país, particularmente afetado pelos ataques jihadistas.
"São os mesmos jovens oficiais que já estavam nas manobras durante o primeiro golpe em janeiro. É um golpe intramuros. (...) A questão voltará a ser concentrada na luta antijihadista", diz o analista político Drissa Traoré .
- Bandeiras russas -
Por enquanto, os novos golpistas não indicaram se pretendem respeitar o cronograma de transição acordado entre Burkina Faso e a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Os civis deveriam retornar ao poder em julho de 2024.
Na noite de sexta-feira, a CEDEAO, da qual Burkina Faso está suspensa desde o golpe de janeiro, "condenou firmemente a tomada do poder pela força".
A União Europeia considerou que este golpe "coloca em risco os esforços realizados durante vários meses" a favor de uma transição política.
A presença de bandeiras russas em um comício de várias centenas de pessoas na tarde de sexta-feira pedindo a saída de Damiba também levantou questões sobre a influência de Moscou neste novo golpe.
"É evidente que os apoiadores (dos) russos são cada vez mais numerosos. Dentro do exército e da população, levantam-se vozes para pedir uma parceria com a Rússia", destaca o analista Traoré.
O presidente da Comissão da União Africana (UA), o chadiano Moussa Faki Mahamat, condenou neste sábado "a mudança inconstitucional de governo".
Neste sábado, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou o golpe de Estado militar em Burkina Faso e fez um apelo a todas as partes para que se abstenham de usar a violência.
"O secretário-geral está profundamente preocupado com a evolução dos acontecimentos em Burkina Faso. Condena energicamente qualquer tentativa de tomar o poder pela força das armas e pede a todos os atores que se abstenham de recorrer à violência e busquem o diálogo", disse o porta-voz de Guterres, Stephane Dujarric, em nota.
Guterres também "expressa seu pleno apoio aos esforços regionais encaminhados a um rápido retorno à ordem constitucional no país".
* AFP