Os presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, se posicionaram nesta sexta-feira (16) como um contrapeso à influência ocidental, em um encontro de cúpula regional no Uzbequistão que reúne vários Estados que mantêm relações tensas com os Estados Unidos.
Mas a solidariedade entre os participantes revelou algumas fraturas, com os líderes indiano e turco pedindo a Putin que pare a guerra na Ucrânia, onde Moscou está militarmente envolvido, e confrontos armados nas fronteiras entre dois Estados participantes, Quirguistão e Tadjiquistão, que deixaram dezenas de feridos.
Os líderes chinês e russo lideram a Organização de Cooperação de Xangai (OCX), um grupo que pretende rivalizar com as instituições ocidentais, na cidade de Samarkand (Uzbequistão).
O encontro acontece no momento em que Moscou e Pequim enfrentam relações muito complicadas com os Estados Unidos, consequência da invasão russa da Ucrânia e do apoio americano a Taiwan.
O presidente chinês pediu aos líderes dos países participantes a "trabalhar juntos para promover uma ordem internacional em uma direção mais justa e racional".
"Devemos promover os valores comuns da humanidade, abandonar os jogos de soma zero e a política de criação de blocos", disse.
Ele não citou nenhum país, mas Pequim costuma utilizar esta linguagem para criticar os Estados Unidos e seus aliados.
O presidente russo celebrou a influência crescente dos "novos centros de poder", que, segundo ele, estão se "tornando cada vez mais evidentes".
Putin afirmou que a cooperação entre os países membros da OCX, ao contrário do Ocidente, está baseada em princípios "isentos de egoísmo".
- "Não é o momento de fazer a guerra" -
A OCX, formada por China, Rússia, Índia, Paquistão, Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Tadjiquistão, foi fundada em 2001 como uma organização política, econômica e de segurança de cooperação.
No entanto, sinais de desacordo apareceram durante a reunião. "Excelência, sei que este não é o momento de guerra", disse o líder indiano Narendra Modi a Putin no início de uma reunião.
Putin, em resposta, garantiu que estava ouvindo suas "preocupações" e afirmou que "faria todo o possível" para que o conflito na Ucrânia "terminasse o mais rápido possível", acusando Kiev de rejeitar "qualquer processo de negociação".
Pouco depois, porém, o líder russo recuou e garantiu que "o plano [de operações] no país invadido não precisa de mudanças". "Não temos pressa", garantiu.
Ao mesmo tempo, o Quirguistão e o Tadjiquistão vivem neste momento confrontos armados. Seus líderes se reuniram com urgência durante a cúpula para anunciar um cessar-fogo após uma escalada de violência na fronteira entre as duas nações.
Cerca de 19.000 pessoas foram evacuadas no lado quirguiz da fronteira, onde os confrontos continuaram apesar do anúncio de uma trégua.
- Moscou busca aliados -
Putin e Xi também se reuniram com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que pediu ao líder russo que pare a guerra "o mais rápido possível por meio de canais diplomáticos".
Ancara desempenhou recentemente um papel fundamental no acordo entre Moscou e Kiev para desbloquear o embarque de grãos ucranianos para o resto do mundo.
Em seu encontro com Erdogan, Putin disse estar disposto a aumentar "significativamente" todas as exportações russas para a Turquia, especialmente as de energia.
Desde o início da invasão da Ucrânia, os países ocidentais adotaram uma série de sanções econômicas contra a Rússia, que olha cada vez mais para a Ásia em busca de apoio econômico e diplomático.
Putin participou em várias reuniões bilaterais à margem da cúpula.
Durante um encontro com Xi, o russo agradeceu ao colega chinês por sua "posição equilibrada" sobre o conflito na Ucrânia e prometeu "explicações" sobre suas "preocupações".
Xi, que faz sua primeira viagem ao exterior desde o início da pandemia de coronavírus, espera reforçar sua imagem antes do congresso do Partido Comunista Chinês em outubro, no qual aspira obter um novo mandato.
O fato de ter escolhido a Ásia como primeiro destino após mais de dois anos sem deixar o território chinês mostra a importância que Pequim atribui a esta região, atravessada pelas "Novas Rotas da Seda", um projeto gigantesco liderado por Xi para reforçar os vínculos comerciais com o mundo.
Xi também se reuniu nesta sexta-feira com Erdogan e com o presidente do Irã, Ebrahim Raissi, no momento em que as negociações sobre o programa nuclear iraniano estão paralisadas.
* AFP