As forças de segurança do Irã entraram em confronto com manifestantes em protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini, detida pela polícia da moral, que nesta sexta-feira (30) entram em sua terceira semana.
Dezenas de pessoas morreram nas manifestações deflagradas após a morte de Mahsa, em 16 de setembro, uma curdo- iraniana de 22 anos. Ela foi morta três dias depois de ser detida por supostamente não usar o véu da forma "adequada", segundo o estrito código de vestimenta imposto às mulheres na República Islâmica.
Na cidade de Ahvaz, no sudoeste, as forças de segurança lançaram gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, que gritava lemas contra o governo, de acordo com um vídeo divulgado pela Iran International, uma emissora persa com sede em Londres.
Em Zahedan, no sudeste do país, homens armados abriram fogo contra uma delegacia de polícia, segundo a televisão estatal, que reportou vários policiais e transeuntes feridos.
Multidões foram vistas "gritando lemas e enfrentando as forças de segurança" em todo país, especialmente em grandes cidades como Teerã, Isfahan e Yazd (centro), relata a página de notícias Iran Wire, de jornalistas iranianos no exterior.
Na cidade de Mashhad, no nordeste, eclodiram confrontos entre forças de segurança e manifestantes, que atiraram pedras e gritaram: "Vamos matar quem matou minha irmã!".
Desafiando as autoridades, as mulheres queimavam seus véus e cortavam os cabelos, nas manifestações mais importantes desde 2019.
Cineastas, atletas e músicos iranianos expressaram sua solidariedade aos manifestantes, incluindo a seleção de futebol. O apoio de celebridades provocou a indignação das autoridades, que consideram esses protestos "motins" que semeiam "caos".
Segundo a agência de notícias iraniana Fars, cerca de 60 pessoas foram mortas desde o início da mobilização. A ONG Iran Human Rights, com sede em Oslo, relatou pelo menos 83 óbitos.
A Anistia Internacional denunciou que as forças de segurança recorrem à violência "impiedosa", disparando balas reais e projéteis de chumbo, além de cometerem agressões e violência sexual contra as mulheres.
"As autoridades iranianas mobilizaram seu aparato repressivo bem organizado para reprimir impiedosamente as manifestações (...) com o objetivo de reprimir qualquer questionamento de seu poder", lamentou a ONG nesta sexta-feira.
As autoridades relataram mais de 1.200 manifestantes detidos desde 16 de setembro. Ativistas, advogados e jornalistas também foram presos, segundo as ONGs.
O ex-jogador de futebol internacional Hosein Manahi foi preso nesta sexta-feira "por ter incentivado a agitação nas redes sociais", segundo a agência de notícias Irna.
Torcedores de futebol iranianos pediram em uma carta à Fifa que proíba sua seleção de participar da Copa do Mundo no Catar.
"Por que a Fifa dá ao Estado iraniano e seus representantes uma vitrine global, enquanto não apenas rejeita o respeito pelos direitos humanos básicos (...) como também tortura e mata nosso povo?", escreveram.
As forças de segurança também detiveram o cantor Shervin Hajipour, cuja música "Baraye" ("Para"), composta a partir de tuítes dos protestos, tornou-se viral nas redes sociais, de acordo com o grupo de direitos humanos Article 19 e da imprensa persa fora do Irã.
De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Washington, pelo menos 29 jornalistas foram detidos nos últimos dias.
Nesta sexta-feira, a mobilização foi fortemente criticada na oração semanal em Teerã.
"Em relação às concentrações, o povo mostrou sua unidade e exige a punição mais severa contra desordeiros e agentes sediciosos que devem ser punidos", disse o imã Mohammad Javad Haj Ali Akbari, segundo a agência de notícias estatal Irna.
Desde o início das manifestações, as autoridades iranianas acusam forças estrangeiras, incluindo os Estados Unidos, de alimentar esses protestos.
* AFP