Os combatentes talibãs celebraram nesta quarta-feira (31) o aniversário de um ano da retirada das tropas estrangeiras, lideradas pelos Estados Unidos, do Afeganistão após uma guerra brutal de 20 anos.
Os novos governantes do Afeganistão, que não foram reconhecidos formalmente por outros países, retomaram a versão rígida da lei islâmica e afastaram as mulheres da vida pública, apesar das restrições e de uma crescente crise humanitária.
Nesta quarta-feira foram exibidas faixas na capital, Cabul, para celebrar as vitórias contra três impérios, já que a ex-União Soviética e Reino Unido também perderam guerras no Afeganistão. Centenas de bandeiras brancas do Talibã com sua proclamação da fé islâmica foram hasteadas por toda a cidade.
— Estamos felizes porque Alá nos libertou dos infiéis em nosso país, e o Emirado Islâmico foi restabelecido — declarou à AFP Zalmai, morador de Cabul.
"O dia marca o primeiro aniversário da libertação do país da ocupação americana. Deus deu à nossa nação muçulmana esta imensa liberdade e esta vitória", afirmou o governo em um comunicado.
"Tantos mujahedines (combatentes do regime) ficaram feridos, tantas crianças ficaram órfãs e tantas mulheres ficaram viúvas", afirma o comunicado, que pede à comunidade internacional uma "política razoável" para dialogar.
A saída das tropas à meia-noite de 31 de agosto de 2021 encerrou a guerra mais longa da história dos Estados Unidos, uma intervenção militar que começou após os ataques de 11 de setembro de 2001 em Nova York.
Quase 66 mil soldados afegãos e 48 mil civis morreram no conflito, mas foram as mortes de 2,4 mil soldados americanos que a opinião pública americana não aceitou. Também morreram mais de 3,5 mil soldados de outros países da Otan.
Duas semanas antes do fim da retirada, o Talibã tomou o poder após uma ofensiva relâmpago contra as forças governamentais afegãs.
Fogos de artifício
Na terça-feira (30) à noite, fogos de artifício e tiros foram disparados em Cabul como parte da celebração. Na praça Masud, perto da antiga embaixada americana, combatentes armados exibiram bandeiras do Talibã e gritaram "morte aos Estados Unidos", enquanto motoristas buzinavam em seus carros.
As redes sociais do movimento Talibã publicaram várias fotos e vídeos de soldados jovens, muitos deles com os equipamentos militares americanos abandonados na apressada e caótica retirada das tropas de Washington.
— Assim que você zomba de uma superpotência depois de humilhá-la e obrigá-la a sair de seu país — afirma uma mensagem no Twitter com uma foto de uma enorme bandeira Talibã pintada no muro da antiga embaixada dos Estados Unidos.
Apesar do orgulho dos talibãs, os 38 milhões de afegãos enfrentam atualmente uma grave crise humanitária, agravada depois que milhões de dólares em reservas foram congelados e a ajuda externa foi suspensa.
As dificuldades para os afegãos comuns, em particular as mulheres, aumentaram consideravelmente. Os talibãs fecharam as escolas do Ensino Médio para as meninas em várias províncias e vetaram a presença das mulheres em vários cargos públicos. Também passaram a exigir que as mulheres usem o véu integral em público.
— Agora estou em casa, sem emprego — lamentou Oranoos Omerzai, morador de Kandahar, centro de fato do poder Talibã.
Mas o porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, afirmou que "grandes conquistas" foram registradas no último ano.
— Os afegãos não estão mais morrendo em uma guerra, as forças estrangeiras deixaram o país e a segurança melhorou — declarou na semana passada.